De Amor e de Sombra
Isabel Allende
Tradução: Suely
Bastos
Capa: Riogério
Petinga
Difel, Lisboa s/d
Javier enforcou-se na quinta-feira. Nessa tarde, como fazia todos os
dias, saiu para procurara trabalho e não voltou. Muito cedo a mulher pressentiu
a desgraça, muito antes de ter motivos para começar a preocupar-se. Quando caiu
a noite, pôs-se a esperá-lo na soleira da porta com os olhos fixos na rua.
Então, o clamor da tragédia tornou-se-lhe insuportável: correu ao telefone, mas
não conseguiu uma única notícia do marido. Interrogando a penumbra durante um
tempo infinito, chamando-o com o pensamento, surpreendeu-a o toque de recolher,
esperou que passasse a escuridão da noite e os seus olhos viram o novo dia
amanhecer. As crianças ainda não tinham acordado quando a patrulha da polícia
parou à porta da sua casa. Tinham encontrado Javier Leal pendurado numa árvore,
no parque infantil. Nunca falara de suicídio, não se despediu de ninguém, não
deixou palavras de adeus, mas ela sabia desde o primeiro momento que ele se
tinha matado, pois compreendera finalmente o sentido dos nós da corda que sem
cessar torcia e retorcia.
Sem comentários:
Enviar um comentário