terça-feira, 27 de junho de 2017

OLHAR AS CAPAS



De Amor e de Sombra

Isabel Allende
Tradução: Suely Bastos
Capa: Riogério Petinga
Difel, Lisboa s/d


Javier enforcou-se na quinta-feira. Nessa tarde, como fazia todos os dias, saiu para procurara trabalho e não voltou. Muito cedo a mulher pressentiu a desgraça, muito antes de ter motivos para começar a preocupar-se. Quando caiu a noite, pôs-se a esperá-lo na soleira da porta com os olhos fixos na rua. Então, o clamor da tragédia tornou-se-lhe insuportável: correu ao telefone, mas não conseguiu uma única notícia do marido. Interrogando a penumbra durante um tempo infinito, chamando-o com o pensamento, surpreendeu-a o toque de recolher, esperou que passasse a escuridão da noite e os seus olhos viram o novo dia amanhecer. As crianças ainda não tinham acordado quando a patrulha da polícia parou à porta da sua casa. Tinham encontrado Javier Leal pendurado numa árvore, no parque infantil. Nunca falara de suicídio, não se despediu de ninguém, não deixou palavras de adeus, mas ela sabia desde o primeiro momento que ele se tinha matado, pois compreendera finalmente o sentido dos nós da corda que sem cessar torcia e retorcia.

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