Sabia-o muito doente e, mais dia, menos dia,
esperava a notícia.
Chegou hoje.
O Herberto Helder deixou escrito que é na morte de um poeta que se principia a ver
que o mundo é eterno.
Há o Livro do
Meio, romance epistolar escrito por Armando Silva Carvalho e Maria Velho da
Costa, um livro maravilhosos a que poucos dedicaram a atenção merecida.
Não
sabem o que estão a perder.
Nesse livro, Maria Velho da
Costa escreve:
Tenho uma rosa branca na mesa de trabalho revisitada,
rosa que não cessa de não murchar (de facto, não é metáfora de qualquer
tenacidade) vejo o céu que passa de azul fosco azul tinta (idem) por cima dos
telhados dos remediados vizinhos, remediada também eu. Os gatos, macho e fêmea,
dormem, pretos, num sofá preto, na sala. A cadela, ainda mais preta, porque
reluz de muito jovem, dorme com eles. Não tenho fome, não tenho frio. Que mais
quero?
O pior, Armando, é que amanhã é outro dia.
A vizinha da frente acendeu a luz na cozinha de
contraplacados. Tem oitenta anos, não é viúva, nem desgraçada. Baixou agora o
estore.
Eu também.
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