quinta-feira, 1 de junho de 2017

ARMANDO SILVA CARVALHO (1938-2017)



Sabia-o muito doente e, mais dia, menos dia, esperava a notícia.
Chegou hoje.
O Herberto Helder deixou escrito que é na morte de um poeta que se principia a ver que o mundo é eterno.
Há o Livro do Meio, romance epistolar escrito por Armando Silva Carvalho e Maria Velho da Costa, um livro maravilhosos a que poucos dedicaram a atenção merecida. 
Não sabem o que estão a perder.
Nesse livro, Maria Velho da Costa escreve:

Tenho uma rosa branca na mesa de trabalho revisitada, rosa que não cessa de não murchar (de facto, não é metáfora de qualquer tenacidade) vejo o céu que passa de azul fosco azul tinta (idem) por cima dos telhados dos remediados vizinhos, remediada também eu. Os gatos, macho e fêmea, dormem, pretos, num sofá preto, na sala. A cadela, ainda mais preta, porque reluz de muito jovem, dorme com eles. Não tenho fome, não tenho frio. Que mais quero?
O pior, Armando, é que amanhã é outro dia.
A vizinha da frente acendeu a luz na cozinha de contraplacados. Tem oitenta anos, não é viúva, nem desgraçada. Baixou agora o estore.
Eu também.

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