Carta de José Rodrigues Miguéis, datada de
16 de Janeiro de 1968, para José Saramago:
Apoquenta-me muito
a péssima distribuição dos meus livros, que não encontrei em muitas livrarias,
ou de que só havia um ou dois exemplares. O Diário de Notícias do Rossio tinha
dois: costumava tê-los todos! Por outro lado, sem os algarismos das vendas, sou
como um cego: como avaliar do interesse do público? Quanto aos pagamentos,
voltaremos ao acordo de prestações mensais? (Não consegui resolver o problema
que aí me levou e estou cada vez mais pobre… ) A Léah, prometida para Out-Nov.,
ainda não saiu. Como posso eu trabalhar sem apoio nem reconforto? Não percebo o
desinteresse (?) da Cor que sempre me obsequiou! Valerá a pena tanto esforço,
nas condições angustiosas em que tenho vivido? É como se de Portugal só me
viessem contrariedades e desilusões… Antes o silêncio e a paz em que dantes
vivia!
Nada desta
amargura é obra sua, querido Poeta! Só lastimo ter de me abrir consigo, e amargura-lo
também. Tinha muito mais a dizer-lhe, mas já não cabe aqui.
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