sexta-feira, 30 de junho de 2017

UMA VIDA LUMINOSA E BRANCA


Sempre que possa, lerei trechos dos rapazes. Eles pedem, gostam de ouvir o que os companheiros escreveram e é mais estimulante isto do que a competição, a luta pelo primeiro lugar. Em vez da concorrência, haverá a admiração, o entusiasmo, o amor pelo que fazem os que vivem e trabalham connosco. Este é o quadro de honra que eu aprovo; o outro é uma espécie de plataforma de eléctrico já cheia: os lugares serão disputados a murro e a empurrão. E os que ficam em terra olham com azedume os que vão no carro, o que é contra a lei, tão esquecida e tão bela do Amor, da contínua dádiva.
Calculem que estive, neste dia, todo o dia feliz, só porque um pobre homem fora gentil comigo e num quartel um soldadito, em vez de repreender-me por eu ter passado num sítio proibido, sorrindo-se apontava, num gesto cheio de caridade, o caminho lícito. Tão pouco e tão simples, e a gente recusa-se a fazê-lo para ser feliz.
                                        «Felicidade! Afinal
                                        fôssemos nós naturais
                                        e limpos de todo o mal,
                                         não era preciso mais»
                                                     - diz o António de Sousa
E isto, e não que os adjectivos concordam em género e número com os substantivos, é que é preciso ensinar. Ensinar e ser. Antes de tudo, ser. A vida do professor deve ser (tanto quanto possível, pobres de nós!) luminosa e branca. Mais que não ser ignorante, importa não ser mau, nem desonesto, nem impuro… tanto quanto possível, pobres de nós.

Sebastião da Gama em Diário

Sem comentários: