Também não havia
nenhum disco da Carter Family no apartamento. A Chloe despejou um bocado de
bife com cebolas no meu prato e disse «Toma, faz-te bem». Ela era porreira à
brava, fixe da cabeça aos pés, uma bichana maltesa, uma verdadeira víbora –
acertava sempre à primeira. Não sei quanta erva ela fumava mas era muita. Tinha
umas ideias muito próprias acerca da natureza das coisas, disse-me que a morte
era uma fingidora e que o nascimento era uma invasão de privacidade. O que é
que havia a dizer? Não se podia responder nada quando ela dizia coisas daquelas.
É que não se podia provar o contrário. Nova Iorque não a perturbava nem um
bocadinho. «É tudo uma macacada nesta cidade», dizia ela. E ao falar com ela
percebia-se logo porquê. Pus o meu boné e vesti o casaco, peguei na minha
guitarra e comecei a fazer a trouxa. A Chloe sabia que eu estava a tentar fazer
coisas. «Se calhar um dia o teu nome ainda vai correr o país como fogo posto»,
dizia ela, «Se alguma vez conseguires uns pares de notas de cem, compra-me
qualquer coisa».
Bob Dylan em Crónicas
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