A neve queima
mas o fogo do teu
corpo
que tanto me
incendeia
transforma-se às
vezes
numa estátua de
pedra.
A neve queima
e nela me deitava
abraçado à
montanha.
Brilhava assim na
paixão
e não gelava –
ardia
o coração.
A neve queima
com flores
geladas.
Para mim são
labaredas
esses outeiros
brancos
a arder num só
olhar.
A neve queima
mas gelo nos
incêndios
do prazer. Serei
fogo
das estrelas? Ou
apenas
a confusão dos
elementos.
Eu sei: vogar no
ar.
A neve queima
mas quero arder
no teu corpo
ardente.
E quebrar o gelo
dessa estátua
minha.
A neve queima.
Mesmo a tremer de
frio
procuro no ar que
respiro
o fogo que me leve
às águas mais
profundas
dos teus vulcões
acesos.
A neve queima
ao sabê-la fria.
Desço aos infernos
dos fantasmas
e procuro água de
beber.
A neve queima
e nas veredas
encontro
a paz desse
silêncio.
Mas gritar eu
quero
no ar ardente
dos teus sentidos.
A neve queima
quando nem a sinto
Busco no teu olhar
o sinal mais
simples:
unir gelo e
chamas.
A neve queima
mas eu quero arder
nos elementos
maiores.
Incendeia-me,
amor!
Vogar no ar,
morrer
nas águas do teu
fogo.
Lisboa, Julho de 1994
Eduardo Guerra Carneiro em Ler nº 28,
Outubro 1994
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