segunda-feira, 12 de junho de 2017

MORRER DE AMOR


A neve queima
mas o fogo do teu corpo
que tanto me incendeia
transforma-se às vezes
numa estátua de pedra.

A neve queima
e nela me deitava
abraçado à montanha.
Brilhava assim na paixão
e não gelava – ardia
o coração.

A neve queima
com flores geladas.
Para mim são labaredas
esses outeiros brancos
a arder num só olhar.

A neve queima
mas gelo nos incêndios
do prazer. Serei fogo
das estrelas? Ou apenas
a confusão dos elementos.
Eu sei: vogar no ar.

A neve queima
mas quero arder
no teu corpo ardente.
E quebrar o gelo
dessa estátua minha.

A neve queima.
Mesmo a tremer de frio
procuro no ar que respiro
o fogo que me leve
às águas mais profundas
dos teus vulcões acesos.

A neve queima
ao sabê-la fria.
Desço aos infernos
dos fantasmas
e procuro água de beber.

A neve queima
e nas veredas encontro
a paz desse silêncio.
Mas gritar eu quero
no ar ardente
dos teus sentidos.

A neve queima
quando nem a sinto
Busco no teu olhar
o sinal mais simples:
unir gelo e chamas.

A neve queima
mas eu quero arder
nos elementos maiores.
Incendeia-me, amor!
Vogar no ar, morrer
nas águas do teu fogo.

Lisboa, Julho de 1994

Eduardo Guerra Carneiro em Ler nº 28, Outubro 1994

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