Fora da estrada, a
vida era uma confusão. Sem aquela dose noturna de adrenalina ministrada pelo
espetáculo, eu ficava um bocado perdido, deixando que me viesse bater à porta o
que quer que fosse que me andava a corroer. Fora do estúdio e da estrada, eu…
não existia. Acabei por ter de enfrentar o facto de que não estou bem a descansar, portanto, não
posso descansar para poder estar bem. Os concertos mantinham-me focado e
sereno, mas não podiam resolver os meus problemas. Não tinha família, não tinha
casa, não tinha uma vida real. Não é nenhuma novidade; muitos artistas vão
dizer-vos a mesma coisa. É uma maleita bastante comum, assim uma espécie de
perfil típico da minha profissão. Nós somos viajantes, gente que corre estrada
fora, e não gente que fica quieta. Mas cada homem e cada mulher acabam por
correr ou ficar à sua própria maneira. Eu percebi finalmente que uma das razões
de os meus discos levarem tanto a fazer era que eu não tinha mais nada para
fazer; não havia mais nada em que me sentisse confortável a afazer. Por isso,
porque não fazer como cantava o Sam Cooke, e levar «a noite inteira… a noite
inteira… a noite inteira»? As minhas gravações eram como um regresso à
caminhada de três quarteirões até à escola, que todas as manhãs eu tentava
prolongar até à eternidade. Get in
the groove and let the good times roll, we gonna stay here ‘til we soothe our
soul. (Entra no ritmo e deixa correr as coisas boas, vamos
ficar por aqui até apaziguarmos a nossa alma.)
Até apaziguarmos a
nossa alma… isso era capaz de levar algum tempo.
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