quinta-feira, 8 de junho de 2017

ESTA NOITE VOU ESTAR NAQUELA COLINA

Decidi que os primórdios do meu objetivo, da minha razão de ser, da minha paixão, estavam nas ruas da minha terra natal. A par com o catolicismo, descobri a outra peça do «génesis» da minha experiência familiar daquele tempo, que se tornou o início da minha canção: casa, raízes, consanguinidade, comunidade, responsabilidade, manter a dureza, manter a fúria de viver, mantermo-nos vivos. Estas são as coisas que, com a dição açucarada dos carros, miúdas e fortuna, orientaram a minha odisseia musical. Eu até podia viajar para muito longe, afastar-me anos-luz e gostar muito disso, mas acabava por nunca deixar verdadeiramente a minha casa. A minha música começou a ter mais implicações políticas; tentei encontrar uma forma de colocar o meu trabalho ao serviço de causas. Li e estudei para me tornar num escritor melhor e mais eficaz., Eu abrigava dentro de mim uma crença e ambição extravagantes acerca do efeito provocado pelas canções pop. Queria que a minha música se sustentasse na minha vida, na vida da minha família e no sangue, suor e lágrimas das vidas das pessoas que eu tinha conhecido.
Em termos emocionais, a maior parte das minhas letras são autobiográficas. Aprendi que temos de puxar para cima as coisas que nos dizem qualquer coisa de maneira a que elas signifiquem alguma coisa para o público. É aí que reside a prova. É assim que as pessoas ficam a saber que não estamos no gozo. Com a frase final do disco, Tonight I’ll be on that hill(Esta noite vou estar naquela colina), os meus personagens mantém-se inseguros quanto ao seu destino, mas estão empenhados e entrincheirados. No final de Darkness, eu encontrara a minha voz adulta.

Bruce Springsteen em Born To Run

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