segunda-feira, 26 de junho de 2017

OLHAR AS CAPAS


Requiem

Antonio Tabucchi
Capa: Rogério Petinga
Quetzal Editores, Lisboa,1997

Esta história que se passa num domingo de Julho numa Lisboa deserta e tórrida é o Requiem que a personagem a quem chamo «Eu» teve de executar neste livro. Se alguém me perguntasse porque é que esta história foi escrita em português responderia que uma história como esta só poderia ter sido escrita em português, e pronto. Mas à também outra coisa a especificar. Em rigor, um Requiem teria de ser escrito em latim, pelo menos é o que prescreve a tradição. Ora acontece que eu, infelizmente não me dou bem com o latim. Seja como for percebi que não podia escrever um Requiem na minha língua e que precisava de uma língua diferente, uma língua que fosse um lugar de afecto e de reflexão.
Este Requiem, além de uma "sonata", é também um sonho, durante o qual a minha personagem vai encontrar vivos e mortos no mesmo plano: pessoas, coisas e lugares que precisavam talvez de uma oração, oração que a minha personagem só soube fazer à sua maneira, através de um romance. Mas, acima de tudo, este livro é uma homenagem a um país que eu adoptei e que também me adoptou, a uma gente que gostou de mim e de quem eu também gostei.
Se alguém observar que este Requiem não foi executado com a solenidade que convém a um Requiem, não posso deixar de concordar. Mas a verdade é que preferi tocar a minha música não num órgão, que é um instrumento próprio das catedrais, mas numa gaita de beiços, que se pode levar no bolso, ou num realejo, que se pode levar pelas ruas. Como Drummond de Andrade, sempre gostei de música barata, e, como ele dizia, não quero Haendel para meu amigo, nem ouço a matinada dos arcanjos. Basta-me o que veio da rua, sem mensagem, e, como nos perdemos, se perdeu.

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