Requiem
Antonio Tabucchi
Capa: Rogério Petinga
Quetzal Editores, Lisboa,1997
Esta história que
se passa num domingo de Julho numa Lisboa deserta e tórrida é o Requiem que a personagem a quem chamo
«Eu» teve de executar neste livro. Se alguém me perguntasse porque é que esta
história foi escrita em português responderia que uma história como esta só
poderia ter sido escrita em português, e pronto. Mas à também outra coisa a
especificar. Em rigor, um Requiem teria de ser escrito em latim, pelo
menos é o que prescreve a tradição. Ora acontece que eu, infelizmente não me
dou bem com o latim. Seja como for percebi que não podia escrever um Requiem
na minha língua e que precisava de uma língua diferente, uma língua que fosse
um lugar de afecto e de reflexão.
Este Requiem, além
de uma "sonata", é também um sonho, durante o qual a minha personagem
vai encontrar vivos e mortos no mesmo plano: pessoas, coisas e lugares que
precisavam talvez de uma oração, oração que a minha personagem só soube fazer à
sua maneira, através de um romance. Mas, acima de tudo, este livro é uma
homenagem a um país que eu adoptei e que também me adoptou, a uma gente que
gostou de mim e de quem eu também gostei.
Se alguém observar
que este Requiem não foi
executado com a solenidade que convém a um Requiem, não posso deixar de
concordar. Mas a verdade é que preferi tocar a minha música não num órgão, que
é um instrumento próprio das catedrais, mas numa gaita de beiços, que se pode
levar no bolso, ou num realejo, que se pode levar pelas ruas. Como Drummond de
Andrade, sempre gostei de música barata, e, como ele dizia, não quero
Haendel para meu amigo, nem ouço a matinada dos arcanjos. Basta-me o que veio
da rua, sem mensagem, e, como nos perdemos, se perdeu.
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