Para fazer o que fazes, precisas de caminhar. É a
caminhar que te vêm as palavras, que ouves os ritmos das palavras que vais
escrevendo mentalmente. Um pé à frente, depois o outro, a batida dupla do teu
coração. Dois olhos, dois ouvidos, dois braços, duas pernas, dois pés. Isto, e
depois aquilo. Aquilo, e depois isso. A escrita começa no corpo, é a música do
corpo, e ainda que as palavras tenham significado, possam às vezes ter
significado, é na música que os significados começam. Sentas-te à mesa para escrever
fisicamente as palavras, mas na tua cabeça continuas a caminhar, sempre a
caminhar, e o que ouves é o ritmo do teu coração, o batimento do teu coração.
Mandelstam: «Gostava de saber quantos pares de sandálias gastou Dante enquanto
trabalhava na «Commedia.»
Paul Auster em Diário
de Inverno
Legenda: La
Danse pintura de Henri Matisse
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