Lírica Consumível
Armando da Silva
Carvalho
Orientação
gráfica: Espiga Pinto
Colecção Poesia
e Ensaio nº 9
Editora
Ulisseia, Lisboa, Dezembro de 1965
«Fragmentos de
Uma Ideia Burguesa»
I
Visto a camisa. Depois distingo
o dia, usando um alfinete
sob a lomba das unhas.
Caiu-me já o tecto. Medi-o
nas paredes:
as quatro profecias.
Pasto: achado alado o logro
nos flancos de um polícia.
Rodas: de carro de poeta
de puta.
Medidas preventivas
até que chegue a noite.
II
Nasce um pensamento na garganta
como um filho. Enrodilho
o filho o pensamento
e a garganta.
Sofremos todos de moscas nos artelhos
eu deixei de ir à missa há mais de um ano
não brinco com os novos e farto os velhos
sacrilégios domingueiros, abortos
deste clima americano.
Não devia haver mais hermetismo
uma boca deslocando o sonho pela mão
e de repente nascermos assim todos
sem baptismo.
É que há uma origem frustrando nosso enlace
repentino com a morte e uma morte dividindo
nosso serviço
absurdo de ir andando.
Andando Armando a rima zune
e o pensamento afasta prejuízos
e só sorrisos são
a morte natural do entendimento.
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