São
Dias.
Dia
das Bruxas. Dia de Todos os Santos. Dia de Finados.
Pode
brincar-se com coisas sérias?
Não
sei o que o meu avô diria.
Sabe-se
que não se morre quando de quer mas quando se pode.
Será
mesmo?
Há um delirante filme de Jim Jarmuch em que se brinca com coisas sérias.
A canção que faz parte do filme, tem o cantor country Sturgill Simpson, a interpretar a canção-tema que nos diz que os mortos são fantasmas dentro de um sonho, uma vida que não possuímos, que a vida continua para além da morte.
Quando
eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
Não
se morre quando se quer mas quando se pode.
Falará apenas do que sobre o assunto, variadas vezes, o pai lhe disse: «Não
quero lutos. Os lutos ofendem-me. Terão que arranjar forças para que tudo o que
for festas, as façam como se eu também lá estivesse. Se assim não fizerem,
venho por aí abaixo e desato à bofetada».
Foi este o recado. Qualquer dia passará o discurso aos filhos...
Não é fácil...
Este velho recorte é um belíssimo texto do Mário Castrim, e assim, sem quase ninguém dar por isso, passou o centenário do seu nascimento (31 de Julho de 1920).
Bom dia, Mário.
Também não te vou ver ao cemitério. Estás sempre por aqui, os mortos que vão ao nosso lado como dizia o José Gomes Ferreira.
Aquela letra é do próprio Castrim que foi professor de caligrafia na Escola Francisco de Arruda.
O texto é ilustrado com a cena final de O Terceiro Homem de Carol Reed, mais de Orson Welles do que Carl Reed , dizia o meu pai.
A paixão assolapada que ele tinha por Alida Valli, e o meu pai nunca leu o que João Bénard da Costa escreveu: «os olhos mais verdes que já vi, uma testa altíssima, uma boca sôfrega, perfil suavíssimo e um corpo que, sem ser vistoso ou agressivamente sensual, tinha as proporções feitas para a sedução.»
Altiva e orgulhosa, Alida Valli deixa o cemitério de Salzburgo e caminha
estrada fora, indiferente à boleia que Joseph Cotten lhe oferece. Em fundo
ouve-se a cítara de Anton Karas, até Alina Valli se perder, sublimemente, na
linha do horizonte.
«Percebo que a imagem só se moveu, ou
seja, só houve cinema, para nos dar movimentos desses e mulheres assim»,
para voltar a citar João Bénard da Costa.
2 comentários:
Ó Sammy permite-me a ousadia e o atrevimento, era Alida Valli e não Alina Valli (sei que foi apenas uma troca do d pelo n) mas creio que assim ficamos sem dúvidas -sou um picuinha nestas picuinhices-.
Abraço
Não lhe chamo picuinhice, caro Seve, chamo-lhe rigor, algo que, venha de onde vier, muito prezo.
Obrigado e também um
Abraço
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