quarta-feira, 25 de novembro de 2020

ESTE DIA HÁ 45 ANOS


25 de Novembro de 1975.

 Cerca das 02 e 30 horas da madrugada, quatro chaimites dos comandos da Amadora chegam ao Palácio de Belém. Duas delas bloqueiam a Calçada da Ajuda. O comandante da Polícia Militar, Campos Andrada, contacta o Regimento de Comandos sendo-lhe respondido que aquela força estava a cumprir ordens do Presidente da República. Pedidas explicações para a Presidência da República, é confirmado que as chaimites estavam à ordem do Presidente da República, mas que tinha havido uma má interpretação e iriam regressar imediatamente

 O Conselho da Revolução, ao fim de oito horas de reunião em Belém, decidiu manter a nomeação de Vasco Lourenço para comandante da Região Militar de Lisboa.

 04,00 horas -  tropas pára-quedistas ocupam as bases aéreas de Tancos, Montijo, o Estado Maior da Força Aérea, o Comando da Região Aérea, o GDACI , em Monsanto, e a Ota.

 05,40 horas - após cerca de 12 horas de interrupção do trânsito entre Leiria e Lisboa, são levantadas as barricadas montadas por agrários e pequenos proprietários.

 13,30 horas – o Presidente da República classifica a operação dos para-quedistas de sublevação.

14,30 horas - Otelo Saraiva de Carvalho chega ao COPCON no Forte do Alto do Duque.

 Varela Gomes há-de escrever:

 «Mas não havia nada a fazer. A grande decisão estava tomada. Otelo Saraiva de  Carvalho obedecia à convocação do general Costa Gomes, largando os “paras” à sua sorte. O estratega do 25 de Abril de 1974 abandonava vergonhosamente o seu posto de comando em 25 de Novembro de 1975. Na hora do aperto, fugia de calças na mão, à procura do refúgio protector.

Deveriam ser cerca das 15,00 horas quando o general graduado Otelo Saraiva de Carvalho saiu do Copcon… e da revolução.(1)

 Dinis de Almeida também, escreverá:

 O desinteresse manifesto de Otelo pelo controlo e coordenação das suas próprias forças militares, torna-se hora a hora mais inquietante.

 Só da parte da tarde aparecerá no COPCON, onde apenas permanecerá por momentos.

 Arrancará pouco depois para Belém onde afirmará junto a Vasco Lourenço e Marques Junior que ”… eu próprio lancei os pára quedistas, após o que a seguir os abandonei de propósito para lixar a esquerdalhada… que andava sempre a chatear-me…” 

 “Desgraçada Revolução que tais chefes teve”, dissera um dia Vasco Gonçalves, referindo-se concretamente a uma das muitas inconsequências de Otelo.» (2)

 16,35 horas -  a emissão Telescola, a ser transmitida pela RTP, é interrompida e surge no écran o Capitão Duran Clemente que pretende apelar para que as massas populares se mobilizem junto dos quartéis e estações da RTP, mas a transmissão é desviada para os estúdios do Porto e os portugueses passam a assistir ao filme de Frank Tashlin O Homem do Diners Club com Danny Kaye.

 16,30 horas -Costa Gomes decreta o estado de emergência na Região de Lisboa.

  Posteriormente é decretado o estado de sítio parcial na Região de Lisboa e a suspensão da publicação da imprensa escrita.

 22,00 horas - a emissão do Rádio Clube Português é silenciada e a Emissora Nacional, a transmitir dos estúdios do Porto, fica sob o controlo do CEMGA.

 Do livro Abril nos Quartéis de Novembro: 

« A calma, o saber esperar, adicionados à capacidade de provocar o adversário, terão sido os aspectos que mais contaram para a vitória dos “Nove”, que, à partida, não eram a força melhor colocada em termos militares na cidade de Lisboa. Tais capacidades são especialmente demonstradas no próprio dia 25, quando evitam actuar sem a cobertura de Costa Gomes. Esperaram que ele tentasse resolver o problema por outros meios, ao mesmo tempo que o iam pressionando, demonstrando a urgência de passara à acção. Em verta altura argumentam que não se pode deixar cair a noite para agir e que tudo está por fazer. » (3)

 Costa Gomes toma o comando directo das Forças Armadas, e as unidades de Lisboa são informadas de que além dele também recebem ordens de Vasco Lourenço, que Costa Gomes nomeia como seu adjunto, e mais tarde juntará o nome de Ramalho Eanes à cadeia de comando.

 José Gomes Mota no seu livro A Resistência:

«Tudo se passava, portanto, segundo os nossos planos, ou seja, Vasco Lourenço chefiava o Movimento e Ramalho Eanes dirigia o Grupo Militar.

Em seguimento à proclamação do estado de sítio parcial, na área da região de Lisboa, o Estado Maior das Forças Armadas difunde uma nota oficiosa em que se informa a população de que foi determinado o recolher obrigatório no período que se estende das zero às seis horas da manhã, e em que, também, alerta para o facto a rádio e a televisão não poderem emitir comunicados dos partidos políticos, apenas comunicados oficiais.»

 Simone Beauvoir, algures no tempo:

 O mais terrível dos sentimentos é o de ter a esperança perdida.

 José Gomes Ferreira no seu livro Intervenção Sonâmbula:

 Estamos no fim da Revolução. E porventura não tardará aí o inferno que ninguém quer.


Fontes:

- Acervo pessoal.

 (1)   – Sobre os Golpes Contra-Revolucionários de 11 de Março e de 25 de Novembro de 1975 – Varela Gomes, edição do autor, Lisboa s/d

(2)   - Ascensão, Apogeu e Queda do M.F.A. 2º volume, Edição do Autor, Lisboa s/d

(3)   - Abril nos Quartéis de Novembro – Avelino Rodrigues, Cesário Borga, Mário Cardoso, Livraria Bertrand, Junho 1979

(4)    - A Resistência – José Gomes Mota, Edições Jornal Expresso, Lisboa, Junho 1976

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