segunda-feira, 16 de novembro de 2020

SEIS HORAS DA MANHÃ

Não há nada, já se sabe,

A que a morte

Não arranque o lacre.

 

De volta a casa, a porta

Estava mal fechada,

Para não dizer aberta.

Morrera há pouco tempo,

Desfeito em poucas horas. Mas

Vi o que os mortos, realmente,

Não podem ver:

A casa atravessada pela minha morte

Acabada de estrear,

Apenas um pouco espantada,

Quente ainda do calor

Que me deixara,

Quebrada a tranca,

Vão o ferrolho,

Vasto o ar que em meu redor

Me tornava tão ínfimo na morte.

 

 – Uma após outra, as avenidas

despertavam em Milão, alheias

a todo este vento.

 

Vittorio Sereni, tradução de Ernesto Sampaio em A Rosa do Mundo 2001

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