sexta-feira, 8 de julho de 2022

NASHVILLE AO CAIR DA NOITE

Já aqui confessei, várias vezes, o meu gosto por néons.

Encanta-me aquela hora do “lusco-fusco”, quando uma pequena luminosidade ainda paira sobre as cidades e os primeiros letreiros luminosos se começam a acender.

E então se tiver chuviscado e se todas essas luzes dos letreiros e dos anúncios se deixarem ver refletidas no alcatrão molhado, eu tenho orgasmos sucessivos…

 E até nem sou muito esquisito nesse aspeto. Qualquer letreiro que brilhe na noite escura me atrai.

Uma bomba de gasolina perdida no meio de nenhures.

Um aviso de “No Vacancy” num pequeno motel à beira de uma estrada.

O anúncio de que um qualquer cantor meu desconhecido, mas certamente importante, estará presente numa sala de espetáculo dos arredores dentro de muito poucos dias.

E até fotografar um alerta de que ali, naquela pequena cave de um beco esconso, se encontram as mais belas raparigas nuas da região é coisa que não me suscita qualquer problema de consciência.

E por aí fora.

Nas grandes, grandes cidades, nem se fala…

Quando fui pela primeira vez a Nova Iorque parecia um saloio em Times Square, a olhar os néons de um lado e do outro.

Quando passei por Las Vegas, já contei como me senti no interior do “One From the Heart”, do Coppola, de braço dado com Tom Waits e Crystal Gayle.

De onde me vem este gosto pelos néons…?

Não faço a mais pequena ideia.

Miúdo de menos de 5 anos, lembro-me do meu pai pegar na minha mãe e nos meus irmãos e nos levar a ver as luzes de Natal da cidade, as quais, pobrezinhas, não deviam ser grande coisa naquele final dos anos 50. 

Mas eu lembro-me como se fosse hoje. Saíamos de Entrecampos, fazíamos toda a Avª da República até ao Saldanha, descíamos ao Marquês e depois até à Baixa, através da Avª da Liberdade, e era por aí que o meu pai dava mais voltas. Eu colava os olhos à janela do carro


 (abri-la era proibido…) e olhava, fascinado, para todo aquele espetáculo de luzes e de cores, que incluiria não só os efeitos de Natal, mas também os normais letreiros luminosos das lojas da cidade, coisa que, com tão tenra idade, também não estaria, certamente, muito habituado a ver. 

E é bem possível que, depois, adormecesse a sonhar com tudo isso, em lugares imaginários onde crianças como eu, conduzidas por um qualquer Peter Pan, podiam saltar das suas camas, abrir as janelas dos carros quando muito bem quisessem e passear-se livremente por entre essas iluminações tão bonitas, sem que qualquer adulto nos viesse chatear.

Muitos anos mais tarde encantei-me com as comédias musicais americanas, onde a luz e a cor jorravam por todos os lados, ainda por cima acompanhadas por canções. Quase todos esses filmes estão carregados de néons, como bem se lembrará quem viu “Singing in the Rain”, “The Band Wagoon” ou “The Gang’s All Here”.

Agora, é a história do ovo e da galinha…

Gosto de néons porque me fazem recordar os “Musicais”, ou gosto de “Musicais” porque me fazem lembrar os néons da minha infância…? Ou nem uma coisa nem outra, e gosto, apenas, porque sim…?


Para o caso, pouco me importa. Gosto muito, e isso basta-me… 

Para terminar e ilustrar esta lenga-lenga, deixo-vos com alguns exemplos dos néons da Broadway de Nashville. 

Fotografá-los bem é difícil, quando não se dispõe de muito tempo e de uma máquina boa. E, ainda por cima, quando as luzes estão sempre em movimento. Mas quem dá o que tem… 


 
E pronto…

Deixemos que caia a noite sobre Nashville e sobre a “Country Music” e partamos à aventura para outras músicas e para outros lugares. 

Texto e fotografias de Luís Miguel Mira

Sem comentários: