Conheci o Joaquim Benite por meados dos anos 60.
Trabalhava o Benite n'O Século, boemava eu, pelos cafés de Lisboa, com
o José Ferraz e o Armindo, e amiúde encontrávamo-nos no último eléctrico,
que do Martim Moniz subia até à Graça.
Morava num quarto alugado na Rua Cesário Verde, uma
vida muito difícil.
Eu morava em casa dos meus pais, na Mestre António
Martins.
Descíamos na paragem do Forno do Tijolo, subíamos a
Heliodoro Salgado, madrugada dentro a falar, por exemplo, de algumas das
maneiras de deitar um ditador de botas, do trono abaixo. Nenhuma era do modo
como veio a acontecer.
Detestava o teatro que se fazia na altura, entre os
pastelões do Nacional, os
pastelões comerciais, o teatro de revista.
Tinha um sonho. Melhor: tinha muitos sonhos.
Acompanhei os seus primeiros tempos no Campolide. Uma dedicação, um
entusiasmo que não cabem em palavras.
Já a trabalhar em Almada, Benite e a sua mulher,
Teresa Gafeira, chegava altas horas da noite à casa onde viviam na Rua da Paz,
r desatava a fazer esparguete à bolonhesa, falava, falava, fumava um milhão de
cigarros.
- És um autêntico
caixeiro-viajante do teatro.
- Sabes lá o que é o
teatro, sabes lá o que é um caixeiro-viajante.
O 39º Festival
de Almada termina no próximo dia 18 de Julho.
No dia 29 de
Julho do ano passado, o Público publicou uma crónica de Augusto M. Seabra, sobre Joaquim
Benite e o Teatro de Almada.
Respigo:
«O teatro é a arte da polis
mas é também o grande teatro do mundo/o grande mundo do teatro. E o Festival de
Almada trouxe-nos mundo, isto é, estética e eticamente, conhecimento, o
cosmopolitismo que é tão urgente e, enquanto tal, uma acrescida noção de
cidadania, gesto artístico e também político, pois.
Há um quadro histórico a considerar, mesmo “pré-histórico” ao Festival.
Em 1971 surgiu o Grupo de Teatro de Campolide dirigido por Joaquim Benite,
amador de estatuto mas parte integrante da explosão dos grupos independentes
nesses inícios dos anos 70, com Os Bonecreiros, a Comuna e depois a Cornucópia.
Depois de algumas andanças, em 1978 o grupo passou para a outra margem e em
1981, há 40 anos portanto, passou a ser a Companhia de Teatro de Almada. E o
fazer, o amor e o conhecimento do teatro de Joaquim Benite fez surgir o
Festival de Almada.
Há uma particularidade nos festivais de teatro: conhecendo os maiores, Avignon e Edimburgo, e
tendo uma considerável frequência dos de cinema, música e ópera, não se me
oferecem dúvidas que é nos primeiros que festival é uma expressão da sua
etimologia em festa.
Almada é a nossa grande festa do teatro. O que devemos a Almada é incomensurável. Obrigado Companhia de Teatro de Almada, obrigado Joaquim!»
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