«Recordou-se
da vez em que apanhara um espadarte, de um casal de espadartes. O macho deixava
sempre a fêmea alimentar-se primeiro, e a fêmea, apanhada no anzol, lutou feroz
e desesperadamente, tomada de pânico, e depressa ficara exausta; e durante todo
esse tempo o macho estivera junto a ela, cruzando a linha e dando voltas à
superfície. Andara por tão perto, que o velho temera que ele cortasse a linha,
com a cauda afiada como uma foice e quase do mesmo tamanho e forma. Quando o
velho a agarrara com o croque e lhe dera uma marretada, segurando o estoque e
batendo-lhe no alto da cabeça até que a cor do peixe se tornara quase igual ao
estanho dos espelhos, e depois, com o auxílio do rapaz, a içara para bordo, o
macho ficara ao lado do barco. E então, enquanto o velho desenredava as linhas
e preparava o arpão, o macho saltara muito alto fora de água, ao pé do barco,
para ver onde estava a fêmea, e mergulhara profundamente, com as suas asas cor
de alfazema, que eram as barbatanas peitorais desfraldadas e todas as listras
cor de alfazema a brilhar. Era belo, recordava o velho, e tinha ficado.»
Ernest
Hemingway em O Velho e o Mar
Legenda:
ilustração de Bernardo Marques tirada do livro.
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