Citas muito, dizem. Sempre foi assim. Como explicar? Não se trata nem do uso de argumentos de autoridade nem de exibicionismo cultural. Mas incomoda, eu sei, e permite que se insinue que se não pensa pela própria cabeça, ou que se vive alimentado pelas modas «que vêm do estrangeiro».
Gostaria de tornar bem claro como o gosto
da citação tem a ver com um amor intenso das palavras. Por vezes, citação que
excita pela convicção de que alguém encontrou um dia as palavras
certas – isto é, os nomes próprios – para dizer algo
que em nós foi expressão confusa e enrodilhada. Aqui a citação tem um
efeito de evidência. Que é sempre, acreditem, motivo de júbilo.
Por outro lado, a citação é um
incitamento. Porque retirar as palavras de um contexto (a citação faz
um desvio) é criar em torno delas um halo de silêncio, um anel de
referências implícitas, que abre o espaço para dizer mais. O espaço
off de uma citação é um convite para se pensar. A citação condensa, mas
ao mesmo tempo indecide – efeito de descontextualização.
Eduardo Prado Coelho em Tudo O Que Não Escrevi, Volume I
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