O Firmamento é Negro e Não Azul
António
Cândido Franco
Capa:
Rui Rodrigues
Quetzal
Editores, Lisboa, Janeiro de 2023
Conheci Luiz Pacheco, Luiz Machado Gomes Guerreiro Pacheco, nomeado neste livro Luiz José, na Feira do Livro de 1972 na Avenida da Liberdade, tinha ele 47 anos e era eu imberbe e quase miúdo. Foi o ano em que pela primeira vez andei sozinho na Feira do Livro, então na ala interior da Avenida da Liberdade, do lado de quem sobe. Nos escaparates apresentava-se uma novidade, Exercícios de Estilo, com fotografia do rosto do autor em toda a extensão da capa. Foi assim que fiquei a saber de um escritor português chamado Luiz Pacheco. A sua figura real, que vi de relance a esgueirar-se para o tráfego da rua, impressionou-me. Alto e míope, embrulhava-se num farrapo branco, desmedido para o desarmado e encurvado tronco, prendia as calças na cintura com uma corda e enrolava-as nos joelhos deixando ao léu parte das pernas esqueléticas. Nos pés, uns sapatos pretos esburacados, sem meias, deixavam-lhe à mostra os tornozelos ossudos e feridos. Um colar reluzente de pústulas magoava à luz crua do Sol. Movia-se entre os carros da avenida como um animal acossado por paus e pedras; levantava os magros braços ao céu e olhava baixo e desconfiado para os lados. Rosnava – Mais receoso que feroz.
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