Encontrado na Antologia do Esquecimento:
«Ontem, um amigo mandou-me uma mensagem a
dar conta de que sua excelência a Ministra da Cultura foi para o festival
literário de Óbidos gabar a rede de bibliotecas. Pois muito bem. Só que a
senhora disse que as bibliotecas são centros de actividade onde inclusivamente
se podem realizar aulas de tricot, yoga, croché. Hoje, o mesmo amigo envia-me a
notícia de que a "Livraria Lello quer médicos a receitar livros e lança
petição para que Parlamento o decida". Sic erat scriptum. Quando era livreiro
tinha pesadelos com clientes que saíam da livraria com sacos cheios de canecas,
lápis, baralhos de cartas, marcadores para os livros, óculos de leitura,
sabonetes literários. Levavam tudo menos livros. Eram pesadelos que se tornaram
realidade. A ficção não foi superada pela realidade, fundiram-se uma na outra a
ponto de hoje nos ser difícil aceitar que o mundo não é um grande manicómio.
Sendo este o caminho, deixo algumas sugestões: que os livreiros passem a vender
ansiolíticos e que as bibliotecas se transformem em casas de passe e que os
hospitais sejam discotecas e que o Parlamento produza pastéis de nata e que os
parques e jardins se tornem definitivamente grandes salas de espectáculos a céu
aberto e... Ah, espera, os parques públicos já são grandes salas de espectáculos
a céu aberto. Enfim, chego sempre tarde ao futuro.»
1 comentário:
Uma tristeza!
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