segunda-feira, 28 de outubro de 2024

CORTEJO FÚNEBRE

Quando o carro fúnebre passou a morrer

frente ao Café

enterrei a atenção num jornal receando conhecer

aquele nome ao comprido no seu

último passeio pela vila. Os mais velhos

no Café

ousaram até à vidraça comentando

circunstâncias sobre a vida que o

morto tinha. O

sino da torre da igreja soava

tão alto lá fora

os acordes pareciam flechas

alvejando o salão. A

morte não é tudo

na vida pelo que no instante seguinte

todo o povo dispersou e os mais velhos

no Café

voltaram ao dominó

cotejando entre si a última ida ao médico

o mais recente sinal ou

sintoma de doença.

Espreitei a rua para ver se a

morte já ia longe

ainda sentia o sino a latejar na cabeça

dessa vez

(tive a certeza)

tentou ver se levava alguma

coisa de mim.

 

João Luís Barreto Guimarães

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