Mulheres Portuguesas na Resistência
Rose Nery Nobre de
Melo
Capa: Henrique Ruivo
O turno seguinte trouxe-me um «pide» que me disse:
-Então a senhora já está disposta a falar, ou não? A senhora, pelos vistos
está a gostar disto! É que, sabe, aqui na Polícia toda a gente fala. Quando não
querem falar às boas, temos que ir por outros caminhos.
Num dia desses, o Tinoco, já sem saber como convencer a trair o meu
Partido, resolveu dizer-me que o meu marido tinha resolvido abandonar o Partido
porque já estava muito cansado e que me mandava dizer que me fosse também
embora. Apesar de já ter a minha cabeça em água, conservei sempre o tino e
soube distinguir as verdades das mentiras que me diziam. Por isso, respondi-lhe
que um verdadeiro comunista, como o meu marido era, nunca daria um passo
desses.
-Ah, não? Ele até escreveu uma carta repudiando o Partido…
Fiquei fora de mim e, num ímpeto, corri para ele e disse-lhe:
- Mostre-me lá essa carta. Dê-ma na minha mão.
Confesso que foi uma fraqueza que ele aproveitou logo para me dizer:
- Ah, a senhora não acredita no seu companheiro…
Deu dois murros na mesa e retirou-se, para entrar na sala momentos depois acompanhado pelo Rosa Casaco.
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