Se ainda andasse por aqui, a ajudar-nos a passar os
dias tão difíceis que vamos vivendo, Leonard Cohen, no dia 21 de Setembro,
teria feito 90 anos.
Quando a Academia sueca, num suave devaneio, entregou o Nobel da Literatura a Bob Dylan, não desesperei mas sempre entendi que, se o tempo era de variar, ele teria ficado melhor nas mãos de Leonard Cohen.
Leonard Cohen é um abençoado santo do meu panteão musical.
Esta bonita capa é do
disco em que Jennifer
Warnes canta canções de Cohen.
Jennifer amiúde foi suporte – brilhante, também - nos discos e nos concertos de Cohen.
Infelizmente, esta sua aparição a solo não teve, pelo menos por aqui, a aceitação que bem merecia.
Provavelmente conhecem-na melhor no dueto que fez com Joe Cocker, tema Up Where We Belong do filme Oficial e Cavalheiro e com Bill Medley, tema Time of your life do filme Dirty Dancing.
Ela trata de uma maneira simples e amável as canções de Cohen, ao ponto de este ter dito que First We Take Manhattan saíu melhor que o original.
Cortesia do mestre, cumplicidades várias, provavelmente ditas depois de uma épica e caríssima garrafa de tinto, seguida de uma grande cigarrada.
No disco, Jennifer faz
dueto com Cohen em Joan of Arc e Cohen desenhou: Jenny
Sings Lenny.
Lembrando Cohen, transcrevo o poema Famoso Impermeável Azul, um lindíssimo poema, uma canção quase única, servindo-me de uma tradução de José Alfredo Marques no seu livro 59 Canções de Amor e Ódio e Um Poema Sobre Portugal:
São quatro da manhã
fim de Dezembro
Escrevo-te agora,
só para saber se estás
melhor.
Nova York é fria
mas gosto do sítio onde
vivo
Há música na Rua
Clinton
durante toda a noite.
Ouvi dizer que estás a
construir a tua casinha,
no mais fundo do
deserto.
Agora vives para nada,
Espero que mantenhas
alguma espécie de recordações.
Sim, Jane voltou
trazendo um anel do teu
cabelo.
Disse que lho havias
dado
naquela noite em que
tencionaste abrir o coração.
Alguma vez abriste o
teu coração?
Oh, a última vez que te
vimos parecias ter envelhecido tanto!
O teu famoso
impermeável azul estava rasgado no ombro.
Tinhas ido `*a estação
esperar todos os comboios
e voltaste para cas sem
Lili Marlene
E convidaste a minha
mulher para uma centelha da tua vida.
Quando regressou, já
não era mulher de ninguém.
Imagino-te aí, com uma
rosa nos dentes,
um ladrão cigano e escanzelado.
Sei que Jane partiu.
Ela manda cumprimentos.
Que te posso eu dizer,
meu irmão, meu assassino?
Que te posso eu dizer?
Acho que vou sentir a
tua falta.
Acho que te perdoo.
Estou contente por
teres surgido no meu caminho.
Se algum dia voltares
aqui,
por Jane ou por mim,
o teu inimigo está
adormecido
e a sua mulher livre.
Sim, E obrigado pelo
pesar que tiraste dos seus olhos.
Eu julgava que era
próprio,
e por isso nunca tinha
tentado.
E Jane voltou trazendo
um anel do teu cabelo.
Disse que lho havias
dado
naquela noite em que
tencionaste abrir o coração.
Sinceramente, L. Cohen
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