sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

LIVRÃO


Tenho por hábito que, quando há quem diga as coisas melhor do eu, e não é muito difícil, não hesito: transcrevo ou cito.

É o caso deste anúncio. 

Quando nele reparei soou-me mal, havia qualquer coisa em que a bota não batia com a perdigota. Hoje, pela leitura de um “post” no “Horas Extraordinárias” da excelente poetisa Maria do Rosário Pedreira, encontrei, preto no branco, o que no anúncio me causara engulhos: Assim:

Um dia destes, chamou-me a atenção um anúncio de página inteira com um ar pré-natalício publicado num suplemento cultural de um jornal diário. Tratava-se de uma campanha aparentemente a favor das crianças que não têm dinheiro para comprar livros e apelava ao nosso sentido de generosidade, caridade ou dever, propondo-nos que comprássemos um livro para essas crianças e o depositássemos num «livrão» – recipiente donde, em Dezembro, os livros seriam retirados e entregues a crianças de determinada instituição. Assim, à primeira vista, uma ideia louvável, claro; eu até tenho em casa muitos livros infantis repetidos ou dispensáveis que não me importaria de ir pôr no dito livrão – e também não me escusaria a comprar mais um ou dois nesse espírito de missão que se traduz em dar livros a quem quer mas não pode ler. O anúncio era, porém, de uma conhecida cadeia de livrarias portuguesa e, no livrão, afinal só podem colocar-se livrinhos acabados de comprar em qualquer das suas lojas... Sim, leu bem. Um negócio para a respectiva livraria, claro, mas disfarçado de acto beneficente... Sem contar com o custo do anúncio – que não se pode desdenhar em tempos de crise – e, provavelmente, da construção de livrões vários, tudo o mais é lucro limpo e sem osso. Nunca gostei muito dos que se armam em bons..."

Este post, posteriormente, veio a ter uma adenda. Se bem que tenha a leve impressão de que a "Livraria Bertrand” apenas tentou um remendo coxo, segue o que Maria do Rosário Pedreira entendeu adendar. 

O resto da polémica pode ser acompanhada aqui:

“Para os que não lêem os comentários: depois do meu post  de quinta-feira, que desencadeou muitas reacções de indignação, uma funcionária da Livraria Bertrand esclareceu que podemos ir pôr no livrão livros infantis não comprados naquela cadeia desde que sejam novos. Tenho pena de que o anúncio que mencionei não o dissesse, mas fico obviamente contente que assim seja.”

Sem comentários: