sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A PORTA QUE DAVA PARA O JARDIM...


Bebeu um copo de vinho. Depois outro. Ficou algum tempo a olhar para a estrela no cimo do pinheiro. Uma estrela partida. Mil estrelas pequeninas. As variações Goldberg. Apercebeu-se da voz de Glenn Gould cantando baixinho. Talvez tudo não passasse de um pesadelo, talvez daí a pouco encontrasse o caminho para a torre, a sua torre… Mas mesmo lá em cima ouviria as vozes delas, elas que falavam de morcegos e narcisos… A porta que dava para o jardim continuava entreaberta deixando ver a chuva, o nevoeiro.

Ana Teresa Pereira em A Noite Mais Escura da Alma

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