Depois do 25 de Abril escreveu quatro livros, livros de
memórias, factos da sua vida e do seu tempo, uma vida de vela larga
como referiu José Gomes Ferreira, e que provocaram entusiasmos ao escritor
brasileiro Jorge Amado.
Sempre conheci a Beatriz Costa anti-salazarista furiosa.
- No princípio do verão encontrei-a no comboio de Cascais a
dizer mal do Salazar com voz tão estridente que o actor Assis Pacheco teve de
metê-la na ordem. «Cala-te! Pois não vês que está ali um tipo com cara de
Pide?» - contou-me o Mário Dionisio.
Mas assim que o Salazar caiu doente, a querida Beatriz Costa
tão progressista e anti-salazarista etc., correu logo ao hospital da Cruz
Vermelha a inscrever-se no rol dos que desejavam ardentemente as melhoras do
Paizinho.
- Nunca mais apareceu na Brasileira do Chiado, onde é
cliente assídua – disse-me o Salgado – Tem medo que a comam viva.
Pobre Beatriz! Tão inteligente, viva, azougada, talentosa,
socialista talvez! E actriz também, não nos esqueçamos. Actriz do velho estilo
venal e sentimentaloide, cheia de pena das desgraças alheias («Coitadinho!»
para a direita! Beijinhos para a esquerda!), embora terrivelmente fria, com o
coração de cofre de barro para guardar moedas…
Enquanto falava com o Mário Dionísio, ia-me rindo de mim
para mim, porque me veio à lembrança uma história que lhe ouvi contar, há
muitos, muitos anos.
Foi o caso que o Salazar (que nunca frequentava teatros de
revista) teve um dia o capricho de conhecer a Beatriz Costa, então na berra entusiástica
do público.
A vedeta acedeu, claro. E preparou-se para ir à amostra a casa
de Sua Excelência.
- Pelo sim pelo não… - comentava ela – lavei-me por baixo e
pus uma combinação nova…
E, com tristeza de Pompadour malograda concluía:
- Mas não aconteceu nada!
Dada a amizade que o ligava a Chianca de Garcia, José Gomes Ferreira colaborou na feitura de Aldeia da Roupa Branca sendo co-autor do argumento.
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