A braços com os meus fantasmas, que nunca deixam de estar presentes
nesta data, vou atiçando o lume da lareira. É meu pai, é Minha Mãe, é meu Avô…
Estão sentados a meu lado, calados, num recolhimento letal. Vieram porque eu
vim, e como há muito me disseram tudo o que tinham a dizer, fazem-me apenas
companhia. É uma consoada suplementar, consecutiva, à outra, mas silenciosa e
abstinente, de que não compartilha o resto da família, que já dorme. A noite é
comprida, e nenhum de nós tem pressa. E vamos deixando correr as horas sacrais,
à espera da luz da manhã. Nela, eles regressarão discretamente ao mundo
tranquilo dos mortos e eu acordarei estremunhado no mundo inquietante dos
vivos. Até que outro Natal nos junte de novo, aqui ainda, unidos pela minha
memória, ou lá onde os imagino lembrados de mim no eterno esquecimento.
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