Na província não neva (o poeta é um fingidor) e, mesmo que
nevasse, nunca passei um Natal na província. Também nunca passei um Natal na
neve ou com neve. Confesso que tenho alguma inveja. Um Natal, como esses da
Judy Garland em Meet Me in St. Louis, com muitos bonecos de neve e a dita a
bater leve, levemente. «Have your self a merry Little Christmas». Também a mim
o Natal, em províncias technicoloridas e lares aconchegados me faz sonhar
saudades.
Mas não se pode ter tudo. Sobretudo não se deve
mal-agradecido. Os meus natais lisboetas e sintrenses já dão pano para mangas,
atravessando quatro – ou cinco – gerações felizes, ou imaginariamente felizes,
em noites de tantíssimos anos, de tanta gente que já dos meus olhos se apartou
ou que aos meus olhos começa a aportar. Quantos foram? Horror, a alembrança das
datas? Horror não é palavra que rime com os meus Natais nem com as minhas lembranças.
Dos antiquíssimos que recordo, era eu dos mais crianças, aos recentíssimos, sou
eu dos mais velhos, a sucessão é boazissimamente boa, e o Natal fica-me bem
como eu fico com ele.
Por isso, não esperem de mim conversas de maldição à
sociedade de consumo, de raiva à paganização, de mentira às famílias, conversas
«desmistificadoras». Natal de manhãzinha ou noite dentro, de rabanadas e perus,
de missas do galo e de presépios, de sapatinhos ou de chaminés, de tudo conheci
e de todos vivi. E não os troco por nada.
Legenda: imagem do filme Meet Me In St. Louis
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