Ontem, pela TV, o ministério recomendou-nos que nas aulas de português
nos associássemos à homenagem nacional ao Miguel Torga. Lá cumpri o meu dever
de patriota. Era uma turma de trinta e tal miúdos. Falei-lhes do poeta, do
autor, dos Bichos, e sobretudo da
façanha de se aguentar em cinquenta anos de trabalhos forçados de literatura
num país analfabeto, sendo que a maior percentagem de analfabetismo é
justamente a dos letrados. Depois lemos na Selecta poesia e prosa do
homenageado. Depois deu o toque para o fim da aula. E logo fechámos os livros e
cadernos e todos ficámos contentes de termos cumprido o nosso dever de
patriotismo.
Vergílio Ferreira no 2º volume de Conta-Corrente, Livraria
Bertrand, Lisboa Fevereiro de 1981.
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