terça-feira, 24 de dezembro de 2013

UM PINHEIRO ROUBADO


Roubaram-nos um pinheiro (para o transformarem por certo em árvore de Natal) e a Rosalia chorou toda a manhã sentada à lareira.
- Ó mulher: não exageres!
- Por minha vontade não voltava mais a Albarraque. Tem de gatunos! – protesta ela, furiosa de pena.
Tento consolá-la:
- Ó Rosalia: e não tens pena do sobreirinho que está a arder na lareira?
Mas ela não tem pena dos mortos que aquecem. Só tem pena dos vivos que arrefecem o nundo. E lhe roubaram o pinheirinho que íamos visitar todos os domingos. Era um pinheiro que usava coleira como um cãozinho vegetal.

José Gomes Ferreira em Dias Comuns, Vol. VI, Publicações Dom Quixote, Lisboa Janeiro de 2013.

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