&etc. – Uma Editora no Subterrâneo
Diversos autores
Coordenação editorial e concepção gráfica: Paulo da Costa
Domingos
Capa: Pedro Serpa
Livraria Letra Livre, Lisboa Novembro de 2013
NASCIDA HÁ 27 ANOS e mantida até hoje, enquanto empresa que o fascismo
não deixou ser cooperativa, naquela “apagada e vil tristeza” de que falava
Camões, a editora & etc soma, no entanto, cerca de 300 títulos publicados.
Se se souber que nunca perseguiu o lucro mas o desejo de que a venda
dos livros permitisse a publicação de novos livros; se se souber que nunca
pediu ou recebeu apoios do Estado ou de outras Instituições; se se souber que
nunca reeditou qualquer dos títulos entetanto esgotados por preferir arriscar
em novos títulos; se se souber que todos os sesu colaboradores (e não centenas)
nunca assinaram qualquer contrato ou receberam qualquer remuneração pelos seus
trabalhos; se se souber que desde a hora inicial nunca pôde contar com o
apreço, sequer com a honestidade, da maior parte dos distribuidores e livreiros
interessados na promoção de produtos de consumo assegurado; se se souber que a
linha ou linhas editoriais nunca assentaram numa estratégia de valores
assimilados, muito antes privilegiaram autores de 1ª obra ou muitos daqueles “incómodos”
situados do lado de fora dos sistemas mentais e linguísticos digeríveis – se se
souber tudo isto, há-de concluir-se que uma tão longa e esforçada permanência
só pode dever-se (pondo de lado alguma raivosa teimosia mesclada de
involuntário masoquismo) à crença ou ao combate por uma cultura outra não
contaminada pela mercantil nem pela aliança sabuja entre os ornamentos do
jet-set cultural e os poderes instituídos – sejam eles de uma “esquerda”
politicamente amorfa e amavelmente corrupta ante o predomínio, ou melhor
dizendo, a ditadura do grande capital.
Funcionando pois em regime de amadorismo auto-consentido (excepto na
probidade do trabalho, que se quer aplicado até para maior apuramento estético)
e à margem, se não contra, as engrenagens das indústrias culturais, a editora
afirma-se decididamente artística e incisivamente intelectual como integrante da acção poética e não como mercadoria descartável.
Dirigindo-se a poucos mas personalizados leitores e não a um público
sem rosto, contabiliza a seu favor um capital de culto que é a sua própria
festa – e a força que a faz resistir à “apagada e vil tristeza” do cerco
económico. O saber que não está só e que há mais quem saiba pagar o preço da
liberdade – desta liberdade ferozmente compulsiva – acentua-lhe essa força.
Saudações cordiais aos camaradas presentes!
Vitor Silva Tavares (2000, comunicação lida por Nuno Moura
em Punta Umbria).
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