domingo, 15 de dezembro de 2013

OLHAR AS CAPAS


&etc. – Uma Editora no Subterrâneo

Diversos autores
Coordenação editorial e concepção gráfica: Paulo da Costa Domingos
Capa: Pedro Serpa
Livraria Letra Livre, Lisboa Novembro de 2013

NASCIDA HÁ 27 ANOS e mantida até hoje, enquanto empresa que o fascismo não deixou ser cooperativa, naquela “apagada e vil tristeza” de que falava Camões, a editora & etc soma, no entanto, cerca de 300 títulos publicados.
Se se souber que nunca perseguiu o lucro mas o desejo de que a venda dos livros permitisse a publicação de novos livros; se se souber que nunca pediu ou recebeu apoios do Estado ou de outras Instituições; se se souber que nunca reeditou qualquer dos títulos entetanto esgotados por preferir arriscar em novos títulos; se se souber que todos os sesu colaboradores (e não centenas) nunca assinaram qualquer contrato ou receberam qualquer remuneração pelos seus trabalhos; se se souber que desde a hora inicial nunca pôde contar com o apreço, sequer com a honestidade, da maior parte dos distribuidores e livreiros interessados na promoção de produtos de consumo assegurado; se se souber que a linha ou linhas editoriais nunca assentaram numa estratégia de valores assimilados, muito antes privilegiaram autores de 1ª obra ou muitos daqueles “incómodos” situados do lado de fora dos sistemas mentais e linguísticos digeríveis – se se souber tudo isto, há-de concluir-se que uma tão longa e esforçada permanência só pode dever-se (pondo de lado alguma raivosa teimosia mesclada de involuntário masoquismo) à crença ou ao combate por uma cultura outra não contaminada pela mercantil nem pela aliança sabuja entre os ornamentos do jet-set cultural e os poderes instituídos – sejam eles de uma “esquerda” politicamente amorfa e amavelmente corrupta ante o predomínio, ou melhor dizendo, a ditadura do grande capital.
Funcionando pois em regime de amadorismo auto-consentido (excepto na probidade do trabalho, que se quer aplicado até para maior apuramento estético) e à margem, se não contra, as engrenagens das indústrias culturais, a editora afirma-se decididamente artística e incisivamente intelectual como integrante da acção poética e não como mercadoria descartável.
Dirigindo-se a poucos mas personalizados leitores e não a um público sem rosto, contabiliza a seu favor um capital de culto que é a sua própria festa – e a força que a faz resistir à “apagada e vil tristeza” do cerco económico. O saber que não está só e que há mais quem saiba pagar o preço da liberdade – desta liberdade ferozmente compulsiva – acentua-lhe essa força.
Saudações cordiais aos camaradas presentes!

Vitor Silva Tavares (2000, comunicação lida por Nuno Moura em Punta Umbria).

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