sábado, 19 de julho de 2014

OS IDOS DE JULHO DE 1974


8 a 14 de Julho

As minas do Pejão continuam ocupadas pelos trabalhadores.

Um comunicado do Partido Socialista chama a atenção do Governo provisório e dos democratas em geral para a gravidade das situações que estão a ser criadas em todo o país com a nomeação ou a conservação em cargos de responsabilidade de pessoas ligadas à política fascista e altamente comprometidas com ela.

É anunciado que Franco se encontra gravemente doente.

A grande preocupação dos Estados Unidos neste momento é a situação em Portugal, declarou o Secretário de Estado Henry Kissinger ao jornal brasileiro Tribuna da Imprensa.

Um despacho do general Costa Gomes, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas datado de 5 de Julho gradua no posto de brigadeiro o major de artilharia Otelo Saraiva de Carvalho
No acto de posse, Otelo Saraiva de Carvalho afirmou: «que foram os jovens oficiais dos 25 aos 40 anos que derrubaram o governo anterior, salientando que «os generais apesar de toda a sua juventude não tiveram coragem de o derrubar.»

Numa entrevista à Emissora Nacional, Adelino Palma Carlos anunciou ter formulado pretensões concretas para poder continuar nas funções de primeiro-ministro:

- eleições do Presidente da República no prazo de três meses;
- referendo para a aprovação de uma Constituição Provisória como adiamento das eleições para a Assembleia Constituinte, até Novembro de 1976;
- amplos poderes ao Primeiro-Ministro.

Reunido o Conselho de Estado, houve decisão favorável à terceira pretensão, sendo as restantes rejeitadas.
 Palma Carlos disse que lhe alargaram os poderes mas «simplesmente não lhe deram o poder.» razão que o levou a pedir a demissão do cargo de primeiro-ministro.
Solidarizaram-se com ele, o ministro sem pasta Sá Carneiro, o ministro da Administração Interna Magalhães Mota, Vieira de Almeida, ministro da Coordenação Económica, Tenente-Coronel Firmino Miguel, ministro da Defesa Nacional. Todos os outros membros do governo mantiveram-se nos seus cargos.
«Saio agora para evitar ter de o fazer mais tarde, envolto num banho de sangue e de lama.»
Em 25 de Junho, numa entrevista ao Diário de Notícias, alertara: «as maiorias silenciosas têm de sair do seu comodismo ou do seu temor e de pronunciarem abertamente.»
A História regista este episódio como «Golpe Palma Carlos», mas por trás encontramos Spínola e Sá Carneiro, numa tentativa desesperada de um retorno à direita. O objectivo  consistia em consolidar o poder pessoal do Presidente da República e consequente afastamento dos ministrosde esquerda do governo.

António Spínola iniciou consultas para a escolha de novo Primeiro-Ministro. Hipóteses várias foram aventadas e chegou a dar-se como certa a escolha do tenente-coronel Firmino Miguel para Primeiro-Ministro, mas a escolha veio a recair no Coronel Vasco Gonçalves.

Adelino da Palma Carlos forma um novo partido: o Partido Social Democrata Português do qual fazem parte também Norberto Lopes, Adão e Silva, Ângelo Almeida Ribeiro, Paradela de Abreu, Jacinto Simões, Alfredo Guisado.

A crise provocada por Palma Carlos, é acompanhada em Moçambique e Angola por um surto de terrorismo branco. Consta que em Luanda o governador Silvério Marques esteve implicado num golpe de estado para a proclamação da «independência branca».

Legenda: título da 1ª página do República de 10 de Junho de 1974.

Fontes: Recortes de acervo pessoal, Diário de Uma Revolução, Mil Dias Editora, Lisboa, Janeiro de 1978, Portugal Depois de Abril de Avelino Rodrigues, Cesário Borga, Mário Cardoso, Edição dos Autores, Lisboa, Maio de 1976, Portugal Hoje, edição da Secretaria de Estado da Informação e Turismo, A Funda, Artur Portela Filho, Editora Arcádia, Lisboa.

Sem comentários: