Viagens
Com o Charley
John
Steibeck
Tradução:
Sousa Victorino
Capa:
Infante do Carmo
Colecção
Dois Mundos nº 92
Edição
Livros do Brasil, Lisboa s/d
Quando
eu era muito novo e sentia em mim o impulso irreprimível de estar em qualquer
outro sítio, foi-me assegurado por pessoas de idade madura que a maturidade
curaria este desejo ardente. Quando os anos me indicavam como amadurecido, o
remédio prescrito foi a meia-idade. Na meia-idade asseguram-me que uns anos
mais acalmariam a minha febre, e agora, que tenho cinquenta e oito, talvez a
senilidade o consiga. Nada surtiu efeito. Quatro sopros roufenhos do apito de
um navio ainda arrepiam o cabelo da minha nuca e põem os pés a sapatear. O som
de um avião a jacto, de um motor a aquecer, até o bater de cascos ferrados no
pavimento, provocam o antigo estremeção, a boca seca e o olhar vago, o calor
das palmas das mãos e da agitação violenta do estômago, aos pulos sob a caixa
das costelas. Por outras palavras não melhoro, ou, indo mais longe, quem foi
vadio é sempre vadio. Receio que a doença seja incurável. Menciono este
assunto, não para ensinar aos outros mas para me informar a mim mesmo.
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