Ao
findar da tarde de 11 de Maio de 1978, o país tomava conhecimento que o último
presidente da república da ditadura, por decisão da Presidência da República,
quando lhe aprouver, pode regressar a Portugal. Como não lhe foi instaurado
qualquer processo ao abrigo da lei nº 8/75, nem encontrada matéria
incriminatória após pesquisas efectuadas pelo Serviço de Coordenação da
Extinção PIDE/DGS, o velho serventuário da ditadura podia vir morrer na pátria
que tanto desprezou.
Foram igualmente tomadas providências para que
possa movimentar livremente as suas contas bancárias.
A
notícia não deixou de chocar profundamente quem, durante anos e anos de
ditadura, viu em Tomás o representante máximo do silenciamento dos crimes da
PIDE/DGS, duma guerra em África que devastou uma geração e que, apenas, se
limitava a cortar fitas de fontanários e a proferir discursos de uma banalidade
e imbecilidade assustadoras.
De
tudo isto se poderia concluir que o fascismo, afinal, nunca existiu.
O
jornalista Orlando Neves foi um dos muitos milhares de portugueses que não
perdoou o ultraje do regresso e que constituía mais um triste sinal da
impunidade com que os servidores da ditadura foram sendo tratados após o 25 de
Abril.
Como
protesto publicou Tomás, por ele Mesmo onde juntou parte dos muitos disparates
que Tomás proferiu ao longo dos anos.
Américo Tomás chegou a Lisboa no dia 23 de Julho de 1978 e veio a morrer, com 92 anos, no dia 18 de Novembro de 1987.
Américo Tomás chegou a Lisboa no dia 23 de Julho de 1978 e veio a morrer, com 92 anos, no dia 18 de Novembro de 1987.
Com que direito se aduzem “razões humanitárias” a favor de um homem
que, conscientemente, sempre as esqueceu no que respeitava aos outros?!...
E assim ficamos perplexos.
E assim ficamos perplexos.
Resta, aos antifascistas, o protesto. E esse protesto
pode ser vário. O que pretendemos neste pequeno livro, para além de tudo o que
aqui fica dito, é recordar, episodicamente, um homem que “à frente dos destinos
da Nação” (outro cliché do Estado Novo dolorosamente verdadeiro) se revelou um
convicto e feroz fascista através de uma personalidade que, mais que teórica,
se nos mostrou ridícula, sem deixar de ser repressiva e policial. Muito mais
que criador de palavras de ordem (coisa em que Salazar era perito) A. Tomás
simbolizou em si um estado cultural conservador, antiprogressista,
reaccionário, retrógado, limitado, raiando a idiotice (é exemplar a sua frase,
que consta deste volume, a propósito de Salazar: ... «a PROVIDÊNCIA poupou-o à
visão bem triste do mundo de hoje, que o progresso ajudou a alucinar»).
Não admira, portanto, que se o “mais alto magistrado da Nação” era aquele que as fotos e as frases de sua autoria recolhidas neste livro nos revelam (em breve antologia), o povo que o fascismo dominava havia de ser mantido ao menos a esse nível cultural. Este um ponto é importante. O fascismo só sobreviveu durante 48 anos porque tudo se fez para manter o povo na ignorância e estupidificação através de uma catequese pertinaz das forças políticas da época em que teve papel preponderante, como exemplo e mentor, A. Tomás.
Não admira, portanto, que se o “mais alto magistrado da Nação” era aquele que as fotos e as frases de sua autoria recolhidas neste livro nos revelam (em breve antologia), o povo que o fascismo dominava havia de ser mantido ao menos a esse nível cultural. Este um ponto é importante. O fascismo só sobreviveu durante 48 anos porque tudo se fez para manter o povo na ignorância e estupidificação através de uma catequese pertinaz das forças políticas da época em que teve papel preponderante, como exemplo e mentor, A. Tomás.
Por
estes dias, publicando fotografias e as respectivas legendas, iremos acompanhar
algumas das páginas que constituem este trabalho de Orlando Neves.
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