Eu formei-me em Medicina, mas não me deixavam ir para
os hospitais por razões políticas, e tinha de ganhar a minha vida. A certa
altura – foi o Arnaldo que me arranjou – fazia traduções técnicas para a
Sandoz, e muitas vezes ia a casa do Alexandre já quando ele vivia na Rua do
Jasmim, numas águas-furtadas. Uma tarde fui lá. Ele batia à máquina e íamos traduzindo,
e conversávamos disto e daquilo – era muito difícil fazer o trabalho, volta e
meia dava-lhe uma maluquice qualquer. Estávamos ali e aparece a Noémia e diz: «O
que é que vocês querem jantar?» O Alexandre vociferou: «Não me chateies, não
Vês que estamos a trabalhar!? «Olha é o seguinte: estava a fazer um empadão de
carne. Querem com arroz, puré de batata ou massa?» O Alexandre vociferou mais
um bocado e eu disse: «Ó Noémia não tem importância. Faz com massa.». «Massa não
tenho.» O Alexandre gritou. Eu disse: «Não tem importância nenhuma. Faz com
arroz.» «Arroz não tenho.» «Com batata.» «Não tenho batata.» O Alexandre ia
crescendo. Eu disse: «Não tem importância. Com essa carne e com uns ovos, fazes
uma omoleta.» «Não tenho a carne», disse a Noémia, «mas há uma tasca aqui em
baixo, e compro uns ovos e umas salsichas.» Foi o que nós jantámos. O Alexandre
manteve uma grande ternura pela Noémia,
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