Urzes
Manuel Hermínio Monteiro
Vapa: Vasco Rosa
Edição O Independente, Lisboa, 2004
Ande-se por
Portugal de norte a sul, nesta altura, e sentimos logo as marcas do Natal.
Pequenos e grandes presépios. Cedros iluminados. Pais Natal de borracha. Ruas
enfeitadas e milhares de luzinhas buliçosas e polícromas que nos piscam por
detrás das vidraças. O presépio mais conhecido é o de Alenquer. A aldeia mais
preparada a preceito é Sande, entre Lamego e a Régua, autodenominada «o
presépio da Beira Alta». Nas terras do Norte, juntam, ao sabor dominante do
bacalhau, o polvo. Come-se por todo o lado filhós, sonhos e rabanadas. Durante
todo o dia 24 os rapazes transportam grandes quantidades de lenha para o centro
da povoação. Em Barrancos, no Alentejo, a lenha começa a juntar-se desde a
festa do 1º. de Dezembro. São medas de troncos e ramas de meter respeito.
À noite, após a consoada, acende-se a fogueira. E em
Vilar de Perdizes reúne-se a aldeia em peso em volta do lume para cantar. As
melhores fogueiras deverão manter a chama, dia e noite, até ao novo ano. Por
todo o lado as festas natalícias portuguesas são de solidariedade e convívio. O
consumismo é fenómeno urbano e muito recente for a dos grandes centros. Pelas
nossas terras, o Natal sempre lembrou família, acolhimento, reconciliação e
partilha. O menino Jesus desce do céu ao primeiro sono.
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