Nos tempos da ditadura salazarista, nomes consagrados da intelectualidade,
fizeram da publicidade um modo de arredondar os escassos ordenados que
usufruíam.
Por lá andaram, entre outros, Alves Redol, Orlando da Costa, Carlos
Eurico da Costa, Mário Henrique Leiria, Luís Sttau Monteiro, José Cardoso
Pires, Bernardo Santareno, José Carlos Ary dos Santos e Alexandre O’Neill.
Ary dos Santos e O’ Neill terão sido dos mais imaginativos.
Numa entrevista, O’Neill explicou-se:
Ser «copy-writer» é uma actividade engraçada pelo lado
da invenção de «slogans», por exemplo. Só é chata quando o cliente não percebe
as nossas intenções e acha que está tudo mal. O jeito para o jogo de palavras,
trocadilhos, etc., vive comigo há muito tempo e tem-me prejudicado
razoavelmente na poesia, embora agora já esteja melhorzinho. Eu descobri a
publicidade através do cinema publicitário. Propus uma vez a alguém (por
brincadeira, claro) que oferecesse um «slogan» ao Metropolitano de Lisboa. O
«slogan» era: «Vá de metro, Satanás!» Esta brincadeira ia-me custando o
emprego. Mas também fiz um, a sério, que foi muito conhecido e ainda hoje é
usado (que pena não o ter registado!): «Há mar e mar / há ir e voltar.» Os
bêbados pegaram logo nele, o que é uma verdadeira consagração: «Há bar e bar /
Há ir e voltar…»
Mas naquele tempo, muito poucos estavam preparados para as ousadias,
quer de Ary, quer de O’Neill e alguns dos slogans acabaram por ficar no papel.
Alguns slogans de Alexandre O’Neill:
Há mar e mar, há ir e voltar (Para o Instituto
de Socorros a Náufragos).
Com colchões Lusospuma não se dá só uma (censurado, aparentemente pelo proprietário
da fábrica.)
Bosh é Brom acabou por ficar
Bosh é Bom.
Gazcidla na cozinha é um descanso, virou Gazcidla, o gás da cidade.
Parker preenche em silêncio o seu papel
A Segurança Volta Sempre (Para a Rodoviária Nacional).
Ruy Belo no seu livro de ensaios Na Senda da Poesia destaca
um outro slogan de O’Neil:
Estruturalistas de todo o mundo, congregai-vos.
António Alçada Baptista em Pesca à Linha conta que o Há
mar há ir e voltar tinha uma outra versão que não foi utilizada: Passe
um Verão desafogado.
Alexandre O’Neill votava no Partido Socialista e inventou um slogan, também não utilizado:
Ele não merece, mas vota no PS.
Um poema que pode ser um slogan:
Se acha que a vida não é boa
utilize gás da companhia
o combustível de Lisboa.
o combustível de Lisboa.
Legenda: pintura de Claude Monet
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