domingo, 21 de dezembro de 2014

OS SLOGANS PUBLICITÁRIOS DO O'NEILL


Nos tempos da ditadura salazarista, nomes consagrados da intelectualidade, fizeram da publicidade um modo de arredondar os escassos ordenados que usufruíam.

Por lá andaram, entre outros, Alves Redol, Orlando da Costa, Carlos Eurico da Costa, Mário Henrique Leiria, Luís Sttau Monteiro, José Cardoso Pires, Bernardo Santareno, José Carlos Ary dos Santos e Alexandre O’Neill.

Ary dos Santos e O’ Neill terão sido dos mais imaginativos.

Numa entrevista, O’Neill explicou-se:

Ser «copy-writer» é uma actividade engraçada pelo lado da invenção de «slogans», por exemplo. Só é chata quando o cliente não percebe as nossas intenções e acha que está tudo mal. O jeito para o jogo de palavras, trocadilhos, etc., vive comigo há muito tempo e tem-me prejudicado razoavelmente na poesia, embora agora já esteja melhorzinho. Eu descobri a publicidade através do cinema publicitário. Propus uma vez a alguém (por brincadeira, claro) que oferecesse um «slogan» ao Metropolitano de Lisboa. O «slogan» era: «Vá de metro, Satanás!» Esta brincadeira ia-me custando o emprego. Mas também fiz um, a sério, que foi muito conhecido e ainda hoje é usado (que pena não o ter registado!): «Há mar e mar / há ir e voltar.» Os bêbados pegaram logo nele, o que é uma verdadeira consagração: «Há bar e bar / Há ir e voltar…»

Mas naquele tempo, muito poucos estavam preparados para as ousadias, quer de Ary, quer de O’Neill e alguns dos slogans acabaram por ficar no papel.

Alguns slogans de Alexandre O’Neill:

Há mar e mar, há ir e voltar (Para o Instituto de Socorros a Náufragos).

Com colchões Lusospuma não se dá só uma (censurado, aparentemente pelo proprietário da fábrica.)

Bosh é Brom  acabou por ficar Bosh é Bom.

Gazcidla na cozinha é um descanso, virou Gazcidla, o gás da cidade.

Parker preenche em silêncio o seu papel

A Segurança Volta Sempre (Para a Rodoviária Nacional).

Ruy Belo no seu livro de ensaios Na Senda da Poesia destaca um outro slogan de O’Neil:

Estruturalistas de todo o mundo, congregai-vos.

António Alçada Baptista em Pesca à Linha conta que o Há mar há ir e voltar tinha uma outra versão que não foi utilizada: Passe um Verão desafogado.

Alexandre O’Neill votava no Partido Socialista e inventou um slogan, também não utilizado:

Ele não merece, mas vota no PS.

Um poema que pode ser um slogan:

Se acha que a vida não é boa
utilize gás da companhia
o combustível de Lisboa.

Legenda: pintura de Claude Monet

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