A Morte de Ivan Ilitch
Lev Tolstoi
Prefácio: António Lobo Antunes
Capa: Henrique Cayatte
Publicações Dom Quixote, Lisboa, Janeiro de 2008
«E a dor? – perguntou a si mesmo. – Que é dela? Então,
dor, onde estás tu?»
Ficou atento.
«Sim, cá está ela. Pois bem, deixá-la doer.»
«E a morte? Onde está ela?»
Procurava o seu habitual medo, o anterior medo da morte
e não o encontrava. Onde está ela? Qual morte? Não tinha medo nenhum, porque
também não havia morte.
Em lugar da morte havia uma luz.
-É então isto! – disse ele de súbito em voz alta. –
Que alegria!
Para ele tudo aquilo aconteceu num único instante e o
significado desse instante já não mudou. Mas para aqueles que estavam presentes
a agonia dele prolongou-se ainda por duas horas. Qualquer coisa fervilhava no
peito dele; o seu corpo extenuado estremeceu. Depois o fervilhar e os
estertores tornaram-se menos frequentes.
- Acabou-se ! – disse alguém por cima dele.
Ele ouviu estas palavras e repetiu-as na sua alma.
«Acabou-se a morte – disse a si mesmo. – Já não existe.»
Inspirou o ar, parou a meio de um suspiro, esticou-se e
morreu.
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