Se eu tivesse que passar o Natal completamente só, aceitava
que assim fosse, e nada mais. Só com todas as lembranças fidelíssimas e sem
felicidade; porque, o que não nos traz exaltação e alegria é sempre profundo e
mais real.
A solidão não é um clima que se possa compensar ou
destruir. Livros, imagens, o espírito das criaturas mortas, não dão qualquer
conforto, apenas distraem. Estar realmente só não comporta distracção; é melhor
mergulharmos na paz terrível de estar só, sem um único desejo, nem que ele
signifique uma virtude. De resto, os livros que eu escolheria num momento de
mais funda solidão, poe exemplo, A Morte de Ivan Ilitch, serviria não para
amenizar, mas para agravar mais. Creio que não é pessimismo o facto de aceitar
o pior.
Agustina Bessa-Luís em Caderno de Significados
Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.
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