As vezes que passo – e são muitas! - pela casa, na rua Cândido Reis, na Parede,
onde Fernando Lopes Graça viveu, salta-me sempre a saudade da sua figura.
Num país onde largamente se manifesta a escassez de gente com coluna
vertebral, Fernando Lopes Graça foi um exemplo.
Só faço uma divisão entre os homens: os honestos,
perfilhem a ideologia que perfilharem, e os desonestos, que se topam logo, e
com os quais me custa ter relações.
Um ministro de Salazar disse que um simples bi menol, escrito por
Fernando Lopes Graça, representava um perigo maior do que mil panfletos
subversivos.
Danda prática à nefasta opinião, perseguiram-no, encarceram-no duas
vezes nas masmorras da Pide e, A Bem da Nação, proibiram-no de
leccionar.
Para sobreviver, dava aulas de piano, sendo obrigado a exilar-se em
Paris, onde viveu com imensas dificuldades mas onde teve oportunidade de
enriquecer o seu génio musical.
Portugal é um país sem tamanho para homens com a dimensão de Lopes
Graça.
Não sou um homem político embora tenha a minha
ideologia política que é conhecida: o comunismo.
Penso que terá sido José Gomes Ferreira quem um dia escreveu:
Olhem-no bem, porque nunca mais veremos um homem assim.
Uma figura cativante que só de o nomear me enche de ternura
Culto, tolerante, excelente conversador, fumador de cigarros
inveterado, bom apreciador de vinhos e comida, óptimo cozinheiro.
Um dia, ao Presidente Ramalho Eanes e sua mulher, ofereceu-se para, na
sua casa na Parede, ou no Palácio de Belém, fazer um bacalhau à Gomes de Sá.
Por ocasião do seu 70º aniversário cozinhou um coelho para, no último andar da sua casa na Parede, degustar com
alguns dos seu amigos.
Desse jantar, o Maestro Vitorino de Almeida realizou um documentário
para a RTP.
Mário Castrim, no seu Canal da Crítica no Diário de Lisboa, colocou em título: Festa
de Lopes Graça: Parabéns a nós todos, e escreveu assim:
Fernando Lopes Graça nasceu em Tomar no dia 17 de Dezembro de 1906 emorreu na Parede no dia 27 de Novembro de 1994.
Um caminho percorrido sempre de pé!
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