Sonhos de Sonhos
Antonio Tabucchi
Tradução de Maria Piedade Ferreira
Capa: Rogério petinga sobre pormenor de pintura de Marc Chagall, Lisboa
1992
Na noite de sete de Março de 1914, Fernando Pessoa,
poeta e fingidor sonhou que acordava. Tomou o café no seu pequeno quarto
alugado, fez a barba e vestiu-se com esmero. Enfiou a gabardina, porque lá fora
chovia. Quando saiu faltavam vinte minutos para as oito, e às oito em ponto
estava na estação do Rossio, na plataforma do comboio com destino a Santarém. O
comboio partiu pontualmente às oito e cinco. Fernando Pessoa tomou lugar num
compartimento onde estava sentada uma senhora aparentando cinquenta anos, que
lia. Era a sua mãe e não era a sua mãe, e estava imersa na leitura. Fernando
Pessoa pôs-se também a ler. Naquele dia tinha de ler duas cartas que lhe tinham
chegado da África do Sul e lhe falavam de uma infância longínqua.
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