quinta-feira, 30 de abril de 2015
POSTAIS SEM SELO
Quem nasce pobre, tarde ou nunca se endireita.
A imagem romântica da miséria atrasou cem anos um país pobre.
Agustina Bessa Luís em Caderno de Significados
Legenda: fotografia de Gérad Castello-Lopes
OLHAR AS CAPAS
TÍTULOS
Um certo título é difícil de fixar pela sua sua extensão, mas todos sabemos que ele existe e tentamos reproduzi-lo com um sorriso: Papá, Pobre Papá, a Mamã Pendurou-Te no Armário e Eu Estou Tão Triste, da peça de Arthur L. Kopit.
Mário de Carvalho em Quem Disser o Contrário É Porque Tem Razão.
OS IDOS DE ABRIL DE 1975
O QU'É QUE VAI NO PIOLHO
quarta-feira, 29 de abril de 2015
POSTAIS SEM SELO
OS TESOUROS DE SINATRA
No Steel Pier, Agosto de 1939
Algumas das primeiras actuações de Sinatra tiveram lugar em Atlantic City, perto de casa. Sinatra cantou muitas vezes no Steel Pier, como cantor residente da orquestra de Harry James; aqui vemo-lo sentado ao lado de James, que está na frente ao centro.
Charles Pignone
OS IDOS DE ABRIL DE 1975
OLHAR AS CAPAS
O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?
Oito ao todo,
Foram inauguradas em 1997,
Que disposição?
terça-feira, 28 de abril de 2015
NOTÍCIAS DO CIRCO
OS IDOS DE ABRIL DE 1975
NOTÍCIAS DO BLOQUEIO
Sem apresentar texto programático, nem textos de crítica ou teoria poética, a publicação reúne criação poética de autores com opções estéticas diversas (além da direção, Jorge de Sena, Casais Monteiro, Miguel Torga, Afonso Duarte, António José Fernandes, Vasco Costa Marques, Mário Henrique Leiria, Maria Almira Medina, João Ribeiro Melo, Orlando da Costa, José Fernandes Fafe, António Reis, Daniel Filipe, Joaquim Namorado, João Rui de Sousa, Alexandre O'Neill, Mário Dionísio, Armindo Rodrigues, José Augusto Seabra, Pedro Alvim, Maria Teresa Rita, Gastão Cruz), mas que colaboram sistematicamente com composições subordinadas a um intuito de denúncia e combate. Cada fascículo incluía, ainda, nas últimas páginas, tradução de poetas estrangeiros (Brecht, Guillevic, Stephan Hermlin, Jorge Carreara Andrade, Jean Todrani, Nicolau Vaptzarov). Os fascículos 6 e 8 são dedicados a poetas moçambicanos e angolanos.
o teu rosto oval, a tua beleza clara,
para enviar notícias do bloqueio
aos que no continente esperam ansiosos.
Tu lhes dirás do coração o que sofremos
nos dias que embranquecem os cabelos...
tu lhes dirás a comoção e as palavras
que prendemos - contrabando - aos teus cabelos.
Tu lhes dirás o nosso ódio construído,
sustentando a defesa à nossa volta
- único acolchoado para a noite
florescida de fome e de tristezas.
Tua neutralidade passará
por sobre a barreira alfandegária
e a tua mala levará fotografias,
um mapa, duas cartas, uma lágrima...
Dirás como trabalhamos em silêncio,
como comemos silêncio, bebemos
silêncio, nadamos e morremos
feridos de silêncio duro e violento.
Vai pois e noticia com um archote
aos que encontrares de fora das muralhas
o mundo em que nos vemos, poesia
massacrada e medos à ilharga.
Vai pois e conta nos jornais diários
ou escreve com ácido nas paredes
o que viste, o que sabes, o que eu disse
entre dois bombardeamentos já esperados.
Mas diz-lhes que se mantém indevassável
o segredo das torres que nos erguem,
e suspensa delas uma flor em lume
grita o seu nome incandescente e puro.
Diz-lhes que se resiste na cidade
desfigurada por feridas de granadas
e enquanto a água e os víveres escasseiam
aumenta a raiva
e a esperança reproduz-se
Esta é a canção Let My People Go cantada por Paul Robeson e referida no poema de Noémia de Sousa Deixa Passar o Meu povo
OLHAR AS CAPAS
e sons longínquos de marimba chegam até mim
— certos e constantes —
vindos nem eu sei donde.
Em minha casa de madeira e zinco,
abro o rádio e deixo-me embalar…
Mas as vozes da América remexem-me a alma e os nervos.
E Robeson e Marian cantam para mim
spirituals negros de Harlem.
«Let my people go»
— oh deixa passar o meu povo,
deixa passar o meu povo —,
dizem.
E eu abro os olhos e já não posso dormir.
Dentro de mim soam-me Anderson e Paul
e não são doces vozes de embalo.
«Let my people go».
sento-me à mesa e escrevo…
(Dentro de mim,
deixa passar o meu povo,
«oh let my people go…»)
E já não sou mais que instrumento
do meu sangue em turbilhão
com Marian me ajudando
com sua voz profunda — minha irmã.
Na minha mesa, vultos familiares se vêm debruçar.
Minha Mãe de mãos rudes e rosto cansado
e revoltas, dores, humilhações,
tatuando de negro o virgem papel branco.
E Paulo, que não conheço
mas é do mesmo sangue da mesma seiva amada de Moçambique,
e misérias, janelas gradeadas, adeuses de magaíças,
algodoais, e meu inesquecível companheiro branco,
e Zé — meu irrião — e Saul,
e tu, Amigo de doce olhar azul,
pegando na minha mão e me obrigando a escrever
com o fel que me vem da revolta.
Todos se vêm debruçar sobre o meu ombro,
enquanto escrevo, noite adiante,
com Marian e Robeson vigiando pelo olho lumírioso do rádio
— «let my people go».
oh let my people go.
vozes de lamentação
e os meus vultos familiares me visitarem
em longas noites de insónia,
não poderei deixar-me embalar pela música fútil
das valsas de Strauss.
Escreverei, escreverei,
com Robeson e Marian gritando comigo:
«Let my people go»
OH DEIXA PASSAR O MEU POVO.
É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS
Será que este rapaz, a perguntar:
- Eu?... Porquê?... é o Jorge Jesus treinador do Benfica?
Se não é... bem parece!...
O anúncio foi publicado em O Seculo Ilustrado de 4 de Maio de 1974.
segunda-feira, 27 de abril de 2015
POSTAIS EM SELO
OLHAR AS CAPAS
OS TESOUROS DE SINATRA
UMA PARTIDA MARCELISTA
OS IDOS DE ABRIL DE 1975
A velha estacou para o medir com um olhar desprezível e ripostou-lhe numa ironia embaraçante:
domingo, 26 de abril de 2015
POSTAIS SEM SELO
Legenda: não foi possível obter o autor/origem da fotografia.
DITOS & REDITOS
OLHAR AS CAPAS
sábado, 25 de abril de 2015
POSTAIS SEM SELO
Não se pode ser nada, quando o solo debaixo dos pés é um coágulo informe sorvido por outros corpos sociais dominantes de que os que governam são apenas lacaios.
AO CAIR DAQUELA TARDE DE ABRIL
Lembrança de José-Augusto França nas suas Memórias para o Ano 2000:
Na sua sede, na António Maria Cardoso, a Pide, cercava, atirava da janela sobre a multidão, por raiva e pânico, matando quatro pessoas e nunca foram identificados os assassinos, orém fáceis de achar, entre os da casa que, sem dúvida, os teriam denunciado e foram ocupando o forçado recolhimento a destruir os arquivos da corporação, bens do Estado não só Novo - do que foram curiosamente desculpados.
OS IDOS DE ABRIL DE 1975
E ENTÃO O QUE É QUE SE HÁ-DE FAZER?...
OLHAR AS CAPAS
NOTÍCIAS DO CIRCO
sexta-feira, 24 de abril de 2015
POSTAIS SEM SELO
CRAVOS E VERDI
Em escassas horas, o senil regime esfrangalhou-se.
Não soltaram um pio.
Como disse o Hélder: foi um ar que lhes deu.
Encharca-nos os dias.
OS IDOS DE ABRIL DE 1975
OLHAR AS CAPAS
Redacções da Guidinha
Luís de Sttau
Monteiro
Capa e ilustrações:
Luís Osório
Edições Ática, Lisboa, 1971
Então mas que é isto toda a gente vota menos eu parece
que mandam um papelinho e a gente escreve o nome de quem quer e mete numa caixa
e depois eles vão lá e contam e quem tiver o nome escrito em mais papéis ganha
lá o que se ganha não sei porque ninguém me explicou e já perguntei a mais de
cem pessoas ou talvez fossem só cinco e começam a olhar para mim como se eu
fosse doida e mudam de conversa mas que Pagode é este o meu Pai diz para eu
meter o bedelho na minha vida como se esta não fosse a minha vida até parece
que tenho outra o meu primo Manel diz que o melhor é eu estar calada e não
fazer perguntas o meu padrinho quando eu lhe perguntei o que é que ganhava quem
ganhasse as votações perguntou-me se eu queria metê-lo em sarilhos mas então
que é isto senhor José que é o dono do talho onde a minha Mãe compra carne de
cavalo que depois diz meu pai que é de vaca quando eu lhe perguntei que nome é
que ele escrever no papelinho das votações abriu os olhos deixou cair a faca e
cortou-se num dedo do pé e disse uma palavra que se a minha Mãe ouvisse ia-lhe
a um sítio que eu cá sei bumba bumba bumba que ele ficava a arder ai não mas
então que pagode é este ninguém me diz nada e eu se não fosse ter os ouvidos
abertos morria burra nestas coisas de votações ai não mas como não estou cá por
ver andar os outros já percebi umas coisa que não posso é dizer senão fico por
aqui e não aprendo mais nada que eles calam-se logo mas a minha Avó coitada que
não regula bem da cabeça para não falar do estômago e de outras coisas porque
ontem foi à casa de banho sete vezes diz que as votações só servem para ir
parar tudo não sei aonde o meu pai que é funcionário público não quer
brincadeiras e diz que isso é para gente rica não é para funcionários e quando
eu lhe peço para me explicar começa aos gritos a dizer que sabe muito bem o que
está a dizer e que o Gomes ficou pobre e que ele não quer ficar pobre mas se
ele tem tanta certeza no que diz então para que é que grita isso é que eu
queria saber sim isso é que eu queria saber mas ninguém me diz é ó dizes mas lá
que mete medo mete eu estava a pensar em escrever o nome do meu pai no tal
papelinho para ver se ele ganhava as votações porque se calhar fazia-lhe arranjo
que ele com o que ganha não se governa mas quando falei n isso e ele ia caindo
da cadeira baixo e depois bumba bumba bumba que já não se pode querer ajudar a
família livra que isto de levar tareia no rabo não é vida para ninguém quem me
contou mais coisas foi o senhor Ricardino que vende lotarias da Santa casa e
que tem tantos fregueses que já podia vender lotarias mesmo dele até já falámos
nisso mas ele tem medo é o que eu digo anda toda a gente com medo então que
diferença é que fazia sim que diferença é que fazia as lotarias dele não davam
nada mas a s outras também quase nunca dão e ele sempre ganhava para meter um
queijito no pão que aquilo de comer sempre pão com nada e nada com pão até faz
mal mas ele é que me disse que as votações são assim um jogo diz o senhor
Bernardino que vende lotaria branca pensos pentes e atacadores agora há muitos
que já não escrevem nada porque viram a barba do vizinho a arder que é como
quem diz que isso a mim a tal barba do vizinho havia de me fazer muita
diferença o que me fazer muita diferença o que me faz diferença é o rabo bumba
bumba bumba não é a barba do vizinho o meu Pai diz que se ninguém soubesse
também lá ia deitar o papelinho mas é ó vais eu gostava que ele deitasse lá
isso gostava que era para ele ficar com o rabo a arder para aprender como é ai
não que dói como burro mas ele não é homem para isso nem a minha Mãe deixa a
minha Mãe ser mulher para isso nunca podia ser porque já está como mulher no
bilhete de identidade e quem muda o que vem ni bilhete de identidade
trama-se eu que diga a bumba que levei quando pintei uns bigodes no retrato do
meu Pai no bilhete de identidade levei que ia ficando doida bumba bumba bumba
mas para me vingar no sítio onde diz sinais particulares escrevi é parvo e bate
na filha e ele ainda não deu por nada quando der é certo e sabido bumba bumba
bumba ai não mas não escapa de toda a gente saber que ele é parvo porque eu
escrevi a tinta da China e lá essa coisa das votações é assim e o resto são
tretas como diz o senhor Bernardino que já disse que desta vez talvez saia uma
terminaçãozita mas não sai mais nada senão bumba no tambor para agente aprender
agora foram lá pôr na minha rua uns cartazes que são uns papéis que se colam
para tapar os buracos aos prédios enfim o que eu queria era saber o que é que
ganha quem ganhar as votações há quem diga que é brinde será de plástico ou
chocolate isso é que eu queria saber mas também gostava de votar lá isso
gostava porque com o treino de bumba bumba que tenho lá de casa ficava-me a rir
desta vez tenho de assinar com outro nome que lá em casa é como se houvesse
votações quem manda é ele e bumba bumba bumba
ANTONINHA
Esta Antoninha que assina esta redacção não tem nada a
ver com a Guidinha que assinava as outras nem é da mesma família e até é órfã
de Pai de maneira que se o meu Pai ler isto e me der outra vez bumba bumba
bumba faz outra injustiça.