Desde o fundo mais fundo dos tempos que admiro Manuel
de Oliveira como o único português (reparem que não digo «como um dos poucos
portugueses» para quem o cinema é mais alguma coisa do que um mero motivo de
comércio ou de comichão estética acidental, mas o seu meio de expressão de
artista verdadeiro. Só isto explica a tenacidade com que a Manuel de Oliveira,
num país sem decentes tradições cinematográficas, conseguiu vencer todos os
entraves, impostos pela gaguez ambiente, legando-nos por fim o Acto da Primavera e a Caça, dois
extraordinários documentos da sua límpida maioridade de artista.
Mas a obra de Manuel de Oliveira traz ainda outra
marca, já patente em Douro, Faina
Fluvial, que me doeria esquecer, mesmo neste depoimento escrito à lufa-lufa:
o seu amor pelo Povo. Não pela palavra abstracta Povo. Mas pelo povo-povo, de
carne e osso, que cheira a suor, fala português, ama, odeia, curva-se e canta
aquela espantosa Verónica de Acto da Primavera.
Isto no meio de total indiferença do mesmo povo que o
desconhece.
Não importa, Manuel de Oliveira! Continue. Filme mais
e mais! Os artistas nasceram para esse destino. Para descobrirem, corajosos, as
breves eternidades do Presente e esperarem pelo Futuro (de que cada vez todos
temos mais saudades!).
Legenda: imagem de Acto da Primavera de Manoel de Oliveira
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