segunda-feira, 6 de abril de 2015

FILME MAIS E MAIS!


 Desde o fundo mais fundo dos tempos que admiro Manuel de Oliveira como o único português (reparem que não digo «como um dos poucos portugueses» para quem o cinema é mais alguma coisa do que um mero motivo de comércio ou de comichão estética acidental, mas o seu meio de expressão de artista verdadeiro. Só isto explica a tenacidade com que a Manuel de Oliveira, num país sem decentes tradições cinematográficas, conseguiu vencer todos os entraves, impostos pela gaguez ambiente, legando-nos por fim o Acto da Primavera e a Caça, dois extraordinários documentos da sua límpida maioridade de artista.
Mas a obra de Manuel de Oliveira traz ainda outra marca, já patente em Douro, Faina Fluvial, que me doeria esquecer, mesmo neste depoimento escrito à lufa-lufa: o seu amor pelo Povo. Não pela palavra abstracta Povo. Mas pelo povo-povo, de carne e osso, que cheira a suor, fala português, ama, odeia, curva-se e canta aquela espantosa Verónica de Acto da Primavera.
Isto no meio de total indiferença do mesmo povo que o desconhece.
Não importa, Manuel de Oliveira! Continue. Filme mais e mais! Os artistas nasceram para esse destino. Para descobrirem, corajosos, as breves eternidades do Presente e esperarem pelo Futuro (de que cada vez todos temos mais saudades!).

José Gomes Ferreira em Seara Nova nº 1417, Novembro de 1963

Legenda: imagem de Acto da Primavera de Manoel de Oliveira

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