Num amontoado de
papelada, à espera do dia-de-são-nunca-à-tarde para ser visto e revisto para um
destino nunca definido, encontrei esta fotografia do Terreiro do Paço.
Foi publicada no
DNA mas, lamentavelmente o recorte não tem data, nem o nome do autor da
fotografia. A culpa é minha não do DNA. Talvez Joshua Benoliel mas é algo
a necessitar confirmação.
Uma Lisboa de
que me lembro, em que ainda havia carroças, polícias sinaleiros – o Natal
do Sinaleiro, as empresas, os automobilistas iam depositando presentes em redor
do estrado redondo – ardinas, marçanos com grandes cestos às costas, varinas,
padeiros, leiteiros, os electricos serpenteavam por toda a cidade, petrolino à
porta, que também vendia lixivia e coisas assim, no Terreiro do Paço estacionavam os fotógrafos à la minuta, o Tejo era um mar de fragatas
e os barcos para o Barreiro eram a vapor.
Lembro-me dos
chineses, nas ruas da Baixa, a venderem gravatas, dos moços-corda-ao-ombro,
nas esquinas da cidade à espera de alguém que lhe pedisse um mandado, de no
Martim Moniz pelo Natal venderem-se perus, vindos do Alentejo e criados a
bolota.
Na minha infância o leite jorrava mesmo dos odres das
vaca e havia qualquer coisa de sagrado nesses bichos em que, segundo os
antigos, Júpiter escondera por astúcia a pobre Io, para a livrar dos ciúmes de
Juno.
Ordenhavam-nas diante de nós, nas vacarias. E, algumas
vezes, até, ao ar livre das ruas, pois nesses tempos a cidade e o campo ainda se
confundiam na igual doçura de trabalho espreguiçado.
Legenda: também
não foi possível identificar o autor/origem da fotografia das vacas leiteiras.
4 comentários:
A foto da praça do Comércio é de Cartier Bresson em 1955
Obrigado pela informação.
Um abraço.
E a das vacas é do Joshua Benoliel.
Muito obrigado pela sua ajuda.
E desculpe o atraso no agradecimento.
Um abraço
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