A jornalista pergunta-lhe:
Eu tinha vindo lá das Áfricas, em parte do jornalismo, no tal jornal “O Intransigente”, de Benguela, posto que tivesse outras profissões, fui para lá um aventureiro. E chego a Lisboa com a determinação, desse lá por onde desse, de nunca mais servir qualquer patrão ou fazer aquilo que não queria, de que não gostasse. Nunca mais. Disse o corvo e disse o Vítor. Pronto.
E regressei portanto para a minha função de pardal, que sou lisboeta tipo pardal. E para subsistir escrevia indistintamente ou contarelos para o “Diário Popular” ou pequenos textos para a “Crónica Feminina” ou crítica de cinema para a “Flama”, ou crítica de cinema para o então “Jornal de Letras e Artes”. E comecei a dizer “não” a uma quantidade de coisas. Empregos, por exemplo, publicidade: “jamais de la vie”. Não era comigo. E andava assim em pardal, saltitando daqui para acolá, palmilhando Lisboa como hoje – sou pedestre –, quando aparece uma proposta que era nem mais nem menos que ir dirigir a editora Ulisseia.
A Ulisseia!, que era a editora que eu, enquanto leitor, na altura ainda com algum dinheirito para comprar livros, mais apreciava, com direcção do Figueiredo Magalhães, que ainda é vivo. Grande editor. Não me deve chupar nem à lei da bala, porque eu é que fui suceder-lhe, digamos. Mal sabe ele a admiração que tinha por ele, e mal sabe ele que ao suceder-lhe não tive outro propósito senão garantir àquela editora o mesmo nível cultural, artístico que o velho Figueiredo Magalhães tinha dado.
Ora o José Cardoso Pires estava ligado à Ulisseia, que era a produtora dessa publicação “sui generis”, espantosa que foi o “Almanaque”.
Quando chego à Ulisseia, meti condições que não dá para acreditar, porque eu não acreditava nada que de repente trocava os cem paus, ou os noventa paus, que me pagava o “Diário Popular” por uma colaboração, e de repente estava à frente, como director editorial, de uma editora como a Ulisseia. Era demais.
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