Obras Em Prosa
Fernando Pessoa
Organização de
João Gaspar Simões
Ilustrações de
Jorge Colombo
Círculo de
Leitores, Lisboa. Janeiro de 1974
As quatro paredes do meu quarto pobre são-me, ao mesmo
tempo, cela e distância, cama e caixão. As minhas horas mais felizes são
aquelas em que não penso nada, não quero nada, não sonho sequer, perdido num
torpor de vegetal errado. De mero musgo que crescesse na superfície da vida.
Gozo sem amargor a consciência a absurda de não ser nada o ante sabor da morte
e do apagamento.
Nunca tive ninguém a quem chamasse “Mestre”. Não
morreu por mim nenhum Cristo. Nenhum Buda me indicou um caminho. No alto dos
meus sonhos nenhum Apolo ou Atena me apareceram, para que me iluminassem a alma.
(Do Livro do
Desassossego)
Sem comentários:
Enviar um comentário