É assustador pensar que tudo o que temos e somos é
memória e o que conhecemos de nós e da nossa vida talvez seja, como a memória
de um poema, uma narrativa fragmentária e volúvel de outras vidas e outras
palavras, nossas e alheias, com as quais construímos um irmão gémeo nosso,
desconhecido, e que a nossa própria voz é provavelmente essa voz
respondendo-nos quando perguntamos por nós. Que, quem quer que sejamos, somos
talvez um outro, e que não sabemos, daquilo que de nós nos é dado saber, o que
é a vida e o que é o sonho, ou medo, ou desejo.
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