quarta-feira, 16 de setembro de 2015

POSTAIS SEM SELO


É assustador pensar que tudo o que temos e somos é memória e o que conhecemos de nós e da nossa vida talvez seja, como a memória de um poema, uma narrativa fragmentária e volúvel de outras vidas e outras palavras, nossas e alheias, com as quais construímos um irmão gémeo nosso, desconhecido, e que a nossa própria voz é provavelmente essa voz respondendo-nos quando perguntamos por nós. Que, quem quer que sejamos, somos talvez um outro, e que não sabemos, daquilo que de nós nos é dado saber, o que é a vida e o que é o sonho, ou medo, ou desejo.

Manuel António Pina

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