O Mapa Cor de Rosa
Maria Velho da
Costa
Capa: Fernando
Felgueiras
Desenhos de
Oscar Zarate
Publicações Dom
Quixote, Lisboa, Abril de 1984
Percebo agora como o exílio pode ser compulsivamente
interferente, affaire de coeur
mais passional que paixão, ou ofensa até à doença mortal – as enormes ausências
cívicas de um Eduardo Lourenço, do Jorge de Sena. Estar longe do chão onde
se botou raízes e onde se afinaram as folhas, é violência, é carência. Que
distorce a percepção, ainda que a afine. A nossa cultura deve muito a
viajantes, a nossa democracia a degredados, a nossa economia a emigrantes. Parece
que não, Salazar fez todo o possível para parecer que não, mas isso faz de nós
uma sociedade carente, isso faz de nós um povo de violência. Porque a violência
tem muito a ver com a contradição nas escolhas, com a indeterminação dos
objectivos, com a carência do ânimo, da formação, de algo mais profundo, que é
a fidelidade àquilo que se investiu, se apostou com firmeza. E nesse sentido, a
firmeza é o único antídoto da violência, como o acto de intimidade com alguém é
o oposto do estupro.
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