segunda-feira, 21 de setembro de 2015

CLARO QUE MAHALIA PERDEU


Uma gravação de Mahalia é sempre igual a outra gravação de Mahalia: a mesma voz, o mesmo poder, nada de afectividades, grande potência e convicção, o grito bem gritado, o fervor religioso, a simplicidade de processos, um piano ou um órgão ou os dois ou nada, a dificuldade da obra perfeita criada com espectacular naturalidade.
Mahalia foi a vedeta mais antivedeta que a História da música afro-norte-africana conheceu. Primeiro, negou-se a cantar em público, salvo na igreja, para os fiéis praticantes lá da sua terra. Depois, recusou-se a cantar em espectáculos, que este tipo de música não era para ser exibida, mas para ser apreciada e para agitar os crentes, lá na igreja do seu bairro. Por fim (para trás Satanás!), não quis gravar em disco o que quer que fosse, porque música religiosa, com letras vindas directamente da Bíblia, só devia chegar aos seus irmãos de raça e fé.
Claro que Mahalia perdeu.

José Duarte em Cinco Minutos de Jazz

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