Domingo à tarde.
O horizonte está roxo e dourado.
Quietude. Os homens estão á conversa no largo.
O largo de Almoçageme, com coreto ao meio, com um café,
igreja, casa mortuária, creche, mercado de peixe, de frutas e legumes, quiosque
de jornais, cemitério, o largo como o centro do mundo no velho dizer do Manuel
da Fonseca.
O diálogo flui na mercearia do Dias, agarrado ao Café Adraga de João & João.
O rapaz pede uma cerveja estupidamente gelada.
Ao lado, Miguel Esteves Cardoso, há muito a viver por ali,
pede desculpa e, de olhos a piscar, murmura:
Não só estúpida como inteligentemente gelada.
Ninguém pergunta de razões.
Lá fora a tarde cai caindo roxa e dourada.
O Manel cantoneiro encosta-se ao cantinho do muro de
cemitério, geme um pouco e deixa lamento:
Mijar pouco na presta.
O quarto minguante desenha-se no céu.
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